O barril de petróleo pode recuar para US$ 30 até 2027 se não houver uma redução da (galopante) oferta da commodity, disse o JP Morgan num relatório enviado a clientes.
Uma queda dessa magnitude faria um estrago espetacular no balanço de empresas como a Petrobras, que teria que queimar US$ 4 de caixa por barril para não deixar a produção declinar — mas este não é o cenário-base do banco.
O time de analistas liderado por Natasha Kaneva prevê cortes voluntários e involuntários de produção no período, e acredita no Brent a US$ 57 em 2027, 10% abaixo dos US$ 63 praticados hoje.
Mesmo com as tarifas de Trump, o processo de eletrificação em curso na China e após três anos de crescimento acelerado pós-pandemia, a demanda mundial por petróleo deve continuar saudável, projeta o JP Morgan.
O banco calcula um aumento na procura de 0,9 milhão de barris por dia este ano, atingindo uma demanda de 105,5 milhões b/d, além de um ganho semelhante em 2026 e um incremento de 1,2 milhão de barris por dia em 2027.
O problema é que, sem cortes de produção, a oferta vai crescer três vezes mais que a demanda este ano e em 2026, disseram os analistas, resultando num aumento significativo dos estoques e numa derrocada no preço.
Não será a primeira vez que produtores de petróleo precisarão reduzir a produção para controlar os preços da commodity.
A novidade desta vez é que há vários novos players relevantes no mercado — metade do excesso de oferta ocorre fora do cartel da OPEP+ — e que mais países sentarão à mesa para negociar os rumos do mercado.
“O shale americano reduziu consideravelmente seu preço de breakeven; Brasil e Guiana agora possuem produção offshore relevante; e o shale argentino começa a ganhar tração com Vaca Muerta,” disse Adriano Pires, sócio-fundador do CBIE e host do videocast POWER do Brazil Journal.
Há ainda Rússia e Venezuela, as superprodutoras de petróleo sob sanção dos EUA. O JP Morgan acha que, se os preços da commodity caírem ainda mais, os EUA poderiam ampliar as sanções sobre a Rússia para controlar a oferta e ajudar seus próprios produtores.
Uma eventual queda do Governo Maduro na Venezuela, por outro lado, é um risco altista para o supply da matéria-prima, assim como o possível fim da guerra de Putin na Ucrânia.
Pires e o JP Morgan descartam uma redução da produção offshore, já que contratos foram assinados, investimentos foram feitos e a viabilidade econômica marginal favorece amplamente a conclusão da extração em detrimento do atraso.
O peso deve recair, então, sobre a produção onshore, principalmente da OPEP+ e do shale americano.
O banco estima que seria necessária uma redução de cerca de 2 milhões de barris por dia a partir de junho do ano que vem para que seu cenário-base para 2027 se materialize.
A aceleração da demanda diante da queda dos preços, principalmente na Ásia e na África, também deve ajudar.
“Na ausência de qualquer intervenção, os baixos preços do petróleo impulsionarão a demanda, ao mesmo tempo que desencadearão uma queda involuntária na oferta, uma vez que preços abaixo de US$ 50 levarão inevitavelmente à paralisação da produção entre os produtores não pertencentes à OPEP+, à medida que as margens de lucro se comprimem a zero,” disse o JP Morgan.
Atualmente a Petrobras precisa de um petróleo ao redor de US$ 34 para atingir breakeven, um analista de sellside disse ao Brazil Journal.
“A empresa não pagaria dividendos, faria o mínimo possível de capex para manter as refinarias e paralisaria os projetos de plataformas,” disse este analista. “Mas é impensável que o petróleo chegue a US$ 30. Se a Petrobras, que é uma das petroleiras mais competitivas do mundo, queimaria caixa somente para manter a produção, imagina as outras. Abaixo de US$ 50 boa parte dos projetos onshore seriam cortados.”
Para Pires, o problema pode ser ainda maior.
“Hoje a Petrobras tem uma dívida de US$ 75 bilhões. Se o petróleo vai a US$ 50, essa dívida pode ultrapassar os US$ 100 bilhões rapidamente”, disse. “Além disso, a companhia sempre tem o fantasma dos maus investimentos rondando, e com o Brent em baixa as consequências seriam bem piores.”
A Petrobras reduziu sua previsão de capex em 2% para o quinquênio de 2026 a 2030, mas projeta um petróleo a US$ 70 em 2027.











