A primeira vez que Rafael Lazarini organizou o Rio Content, o evento era voltado apenas para a indústria audiovisual e seus participantes cabiam na sala de conferência do hotel Windsor Barra.
Sete anos depois, a feira tímida virou o Rio2C, que mal cabe na Cidade das Artes – um espaço de 70 mil metros quadrados – e está recebendo 55 mil pessoas na edição deste ano.
“Está cabendo mais ou menos,” Lazarini disse ao Brazil Journal. “Já estamos tendo dificuldade em fazer caber e estamos começando a olhar até para o jardim, pensando em criar espaços alternativos.”
O Rio2C foi criado em 2018, inspirado no South By Southwest, o evento da indústria criativa que acontece todos os anos em Austin, no Texas, desde 1987.
Lazarini conheceu o SXSW quando fazia um mestrado em gestão de entretenimento em Los Angeles. “Fiquei impressionado como o South By era um catalisador de mudanças para toda a cidade,” disse ele. “Austin era uma cidade que não pulsava muito, e o South By trouxe isso. Desde então fiquei com vontade de fazer algo parecido no Brasil.”
Antes de fundar o Rio2C, Lazarini comandou por cinco anos a IMX, a empresa de eventos de Eike Batista que depois deu origem à IMM, a dona do Cirque de Soleil, Rio Open e São Paulo Fashion Week.
Ele deixou a IMX em 2014 para liderar a expansão do Rock in Rio nos Estados Unidos (que acabou não dando certo) e, na sequência, foi contratado pela Live Nation, a gigante de entretenimento listada na NYSE, para liderar sua expansão na América Latina.
“Na minha negociação com a Live Nation, eu quis garantir que eu pudesse tocar projetos pessoais que não tivessem conflito, porque eu ainda tinha a ideia de criar esse evento no Brasil,” disse Lazarini.
Foram mais dois anos até o Rio2C sair do papel.
O evento começou focado na indústria audiovisual e de música, mas a cada ano foi agregando novos mercados, passando a tratar de assuntos ligados à publicidade, televisão, streaming, esportes e mercado editorial, dentre outros.
Este ano, a nova adição é a indústria da moda, que teve um summit dedicado a ela no dia da abertura.
Diferente de eventos como o WebSummit — que tem um formato mais de feira e é focado na exposição das empresas — o Rio2C aposta pesado na qualidade do conteúdo, promovendo debates aprofundados, e no fechamento de negócios.
O Rio2C é “uma oportunidade de conectar os criadores com a indústria, com quem compra o conteúdo,” disse Nelson Foerster, fundador da Axon Content, uma produtora independente que faz documentários, séries e novelas. “De que outra forma um cara do Maranhão vai poder se reunir com um executivo da Claro, ou alguém do Piauí encontrar com alguém da Paramount? Este evento permite isso. Para mim, é uma grande mesa de negócios.”
Parte importante do evento é o chamado ‘business hall’, uma área apartada que demanda uma credencial especial e onde acontecem rodadas de negócios, pitchs, mentorias e meetups.
“Temos um sistema proprietário de matchmaking. Tem uma equipe que vai nos mercados internacionais para fazer a captação de compradores. Depois trazemos eles, fazemos o upload no sistema e os produtores podem submeter projetos para eles,” disse Lazarini. “Isso cria uma pré-seleção que faz com que as reuniões sejam muito eficientes.”
Segundo Lazarini, as transações vão desde a compra de conteúdo audiovisual por plataformas de streaming até a venda de direitos de livros para a criação de roteiros adaptados, passando por pitchs de novos talentos da música.
Na última edição, foram mais de duas mil rodadas de negócios.
O próximo passo de Lazarini será lançar um novo evento em São Paulo. A ideia inicial era trazer o South By Southwest para o Brasil; o empresário já estava em negociações avançadas com os controladores do evento americano.
Mas o SXSW está passando por mudanças. “Os fundadores venderam o controle, abriram Sydney há dois anos e agora entraram em Londres — e acabaram entendendo que não era o momento de abrir um outro mercado,” disse Lazarini. “Como já estávamos com o projeto bem desenvolvido e com a cara de São Paulo, decidimos seguir mesmo assim.”
O evento vai se chamar SP2B e a primeira edição vai acontecer em 2026, com sete dias de palestras, debates e apresentações musicais. Este ano, a organização já fará uma espécie de teaser: apenas um dia de evento, em 17 de agosto, com um keynote speaker e uma apresentação musical.
Lazarini disse que o SP2B não será uma cópia do Rio2C em São Paulo, e que a proposta será bem diferente.
“O Rio2C é muito focado na indústria criativa, e quando trazemos discussões de inovação e tecnologia é sempre na perspectiva dessa indústria. O SP2B vai ser um evento de inovação mesmo, com muito foco no empreendedorismo e discussões sobre vários setores, além de ter o componente da indústria criativa também, com músicas, apresentações.”
Para criar o SP2B, Lazarini criou uma holding, batizada de DA20 (uma referência a Leonardo da Vinci), que será um veículo para agregar novos negócios.
Além do SP2B, outro plano já para o curto prazo é criar um marketplace que conecta compradores de conteúdo com os produtores — oferecendo a mesma experiência das rodadas de negócio do Rio2C, mas numa plataforma que estará disponível o ano inteiro.