Elie HornA ação da Cyrela caiu quase 5% ontem depois que o BTG Pactual retirou sua recomendação de compra em relação à empresa. O preço-alvo da ação caiu de R$19 para R$16.

Os analistas do banco levantaram pontos válidos. No fim de 2013, a Cyrela tinha R$971 milhões em apartamentos não vendidos, e ainda deve entregar mais R$1,78 bilhão ao longo deste ano. Somando possíveis distratos, eles calculam que a empresa pode terminar o ano com cerca de R$2 bi em estoque. Este capital empatado diminui o retorno sobre o patrimônio líquido, uma métrica de sucesso que os investidores olham de perto.

A grande questão da Cyrela é se vale a pena dobrar a aposta (ou não) daqui para frente, uma decisão que caberá ao fundador da empresa e presidente do conselho, Elie Horn, e a seus dois filhos, Rafael e Efraim, recentemente nomeados co-CEOs da empresa.

O mercado de incorporação nos principais mercados do País — São Paulo e Rio — nunca foi tão competitivo. As incorporadoras de porte médio estão dando trabalho por terem uma estrutura mais flexível do que as grandes incorporadoras listadas, muitas das quais estão colhendo agora a safra azeda da megalomania de lançamentos de 2010-2011.

Não dá mais pra lançar a quantidade de apartamentos (com as mesmas margens) que se lançavam há três anos.

Sobra caixa na empresa, e a grande decisão é o que fazer com ele.

‘Elie & sons’ têm duas opções. A primeira é reter o caixa esperando um momento de mercado melhor, quando estes recursos poderiam ser usados para comprar terrenos a preços melhores e lançar grandes projetos. No Rio, por exemplo, a Cyrela comprou grandes terrenos no ano passado: um deles, onde ficava o parque de diversões Terra Encantada, na Barra da Tijuca; o outro, um terreno no Centro do Rio, na área conhecida como Gasômetro.

A segunda opção é devolver este excesso de caixa para os acionistas, pagando um dividendo gordo ou recomprando ações no mercado. Gestores independentes calculam que, ao longo de 2014, a Cyrela tem folga para devolver (confortavelmente) R$1,2 bi de caixa aos acionistas.

No mercado, se diz que os filhos de Elie são a favor de devolver o caixa, mas não se sabe exatamente o que vai na cabeça de pai, que construiu a Cyrela trabalhando 16 horas por dia, com conservadorismo e um olho para o detalhe. Devolver caixa agora deixaria muitos minoritários felizes, mas Elie pode achar que isso não é no interesse de longo prazo da companhia.

“Ele pode achar melhor reter o caixa e continuar crescendo o volume de lançamentos,” diz um analista. “O resultado disso, no entanto, é incerto. Ele pode acertar na mosca e obter retornos maiores, ou pode errar e ter retornos menores. Tudo isso seria refletido na ação.”

A propósito do “dilema de Elie”, vale lembrar o que Raul Randon, outro empresário com décadas de história à frente de uma grande empresa familiar, disse ontem numa entrevista ao Valor: “Temos que nos preparar com o caixa forte. Se não tiver uma reserva boa para enfrentar uns meses na frente, fica difícil.”