Será que agora vai?
Stephen Roach, o veterano de Wall Street que foi economista-chefe do Morgan Stanley, previu o crash do dólar há quatro anos – e errou feio.
Mas agora, Roach decidiu reeditar a previsão e desafiar a “visão consensual” de que a moeda americana sairá fortalecida com o Trumponomics.morgn
“Como um contrarian congênito, sempre suspeito quando todas as apostas são num único sentido,” escreveu Roach. “O consenso é de que nada pode parar a ascensão do greenback. Acredito que haja razões convincentes para desafiar essa visão.”
Roach reconheceu que já havia previsto erroneamente uma queda do dólar em meados de 2020. Em vez disto a cotação do dólar, medida pelo câmbio real calculado pelo BIS, subiu 20% entre janeiro de 2021 e dezembro de 2024.
Para o economista, a razão principal de seu erro foi que o Federal Reserve reagiu à alta inflacionária elevando os juros.
Roach, entretanto, acredita que de lá para cá os desequilíbrios estruturais se aprofundaram, e agora há fatores ainda mais potentes para jogar o verde para baixo.
São eles, na sua opinião:
1.Déficit externo elevado e poupança interna anêmica
O déficit na conta corrente dos EUA atingiu 4,2% do PIB, contra 1,85% há cinco anos. Já a poupança líquida, que era de 3,1% no início de 2020, recuou para 0,4% do PIB. “Com a perspectiva de maiores déficits orçamentários com Trump 2.0, é um exagero imaginar qualquer melhoria significativa na poupança interna necessária para reduzir o déficit em conta corrente.”
2.Riscos da política do Fed
As chances de um aperto monetário agressivo, algo que ajudaria o dólar, são consideravelmente menores hoje do que no início de 2020. Isso porque os juros estão hoje muito mais próximos da taxa neutra do que estavam há cinco anos.
3.Contágio em outros mercados
“Se eu estiver correto no argumento que apresentei na semana passada de que a bolha de ações dos EUA liderada pela IA vai estourar em breve, suspeito que haverá danos colaterais em outros ativos americanos supervalorizados.”
4.Dólar como reserva de valor
A participação do dólar nas reservas internacionais é de aproximadamente 60% hoje, ante 70% duas décadas atrás. O declínio tem sido gradual. “A visão consensual é que o status de reserva do dólar só será desafiado, se é que isso acontecerá, em algum momento no futuro muito distante,” disse Roach.
Mas para ele, há questões que podem acelerar a perda de importância do greenback nas reservas globais.
Segundo Roach, o uso do dólar foi inflado “artificialmente” por causa dos spreads favoráveis nos juros americanos, e essa atração deverá perder intensidade. Além disso, “há um clamor pós-globalização por blocos regionais de moedas de reserva, liderados pelo chamado Sul Global.”
5.Excepcionalismo americano
Para Roach, é uma questão em aberto se Trump e seus seguidores do MAGA contribuirão para fortalecer o “excepcionalismo americano” – ou se irão chamuscá-lo. O economista acredita na segunda alternativa. “Para colocar em termos dos tempos de Reagan, o dólar supervalorizado está precificando a América como uma ‘cidade brilhante no topo da colina’ ainda mais brilhante do que era há uma geração?”
6.Tarifas
É “superficial” a interpretação de que as tarifas vão fortalecer o dólar. Ela ignora a retaliação de outros países e a possibilidade de uma guerra comercial. As tarifas complicam também o trabalho do Fed. “Em meio a uma cadeia de eventos em cascata, parece-me nada menos que um exagero descrever as tarifas dos EUA como algo positivo para o dólar.”
Roach disse que apesar da “ressalva óbvia” de seu “péssimo histórico recente como analista de câmbio,” ele está “disposto a arriscar mais uma vez para esperar que o índice amplo do dólar devolva a maior parte dos seus ganhos acentuados de 20% nos últimos quatro anos.”