O mundo nunca precisou tanto de data centers — e já enfrenta restrições de oferta — o que abre uma janela de oportunidade para que Brasil e Chile entrem no jogo, disse o BTG, bastando que os países “joguem suas cartas corretamente.”

Para efeito de comparação, a demanda por data centers nos Estados Unidos deve crescer de 31 GW em 2024 para 83 GW em 2030, 11,7% da produção total de energia do país, escreveu o time de analistas liderado por Antonio Junqueira. E “como a cadeia de suprimentos de AI está estressada nos EUA, é natural que outros locais sejam considerados para a implementação de mais capacidade.”

O banco analisou outros locais que se tornaram hubs de data centers — como o norte do estado da Virgínia — e identificou alguns pilares essenciais para o desenvolvimento da atividade.

Brasil e Chile já cumprem grande parte dos requisitos necessários, disse o banco, e podem ganhar mercado com ajustes como o desenvolvimento de uma regulamentação business friendly para o setor.

Energia e confiabilidade da rede é a primeira grande necessidade de um data center, já que a AI consome muita energia e precisa de fontes estáveis e baratas para escalar.

O Brasil tem capacidade energética suficiente para a empreitada no Nordeste, no Sudeste e no Sul, disseram os analistas, e a estabilidade e a confiabilidade da rede melhoraram nas últimas décadas.

O Chile também tem excesso de geração de energia no Norte do país, mas o clima, a falta de água e a baixa demanda na região podem limitar os usos de data centers implementados por ali. A estabilidade da rede chilena tem sofrido com o desenvolvimento de energias renováveis intermitentes, mas o governo está trabalhando para solucionar o problema.

A conectividade de rede também é crucial para a implementação de data centers, afirma o BTG, e o Brasil tem dados “empolgantes” no segmento.

Para além de São Paulo e Rio, o Ceará aparece em destaque, com 90% do tráfego internacional de dados do País e 16 cabos submarinos passando pelo estado, para além de 12 data centers instalados. Nacionalmente esse número chega a 188, com demanda de 770 MW.

No Chile há atualmente 65 data centers em operação (a capacidade é de 228 MW) e outros 30 em desenvolvimento.

O Plano Nacional de Data Centers (PDATA) do país prevê o desenvolvimento de uma plataforma que irá reunir informações sobre variáveis como conectividade para guiar os investimentos futuros do governo na área.

A capacidade de resfriamento é outro fator essencial no desenvolvimento de um data center, já que as estruturas consomem muita energia e produzem calor.

Brasil e Chile não contam com o resfriamento natural existente em países frios, mas possuem água (norte do Chile é exceção) o suficiente para abastecer sistemas de resfriamento.

O quarto pilar para atrair data centers é a combinação entre uma regulamentação favorável e soberania de dados, “pois estabelecem a estrutura legal para armazenamento, processamento e transferência de dados,” disse o BTG. “A soberania de dados refere-se ao princípio de que as informações digitais estão sujeitas às leis do país onde residem fisicamente.”

Segundo o banco, um arcabouço brasileiro para o setor deveria: promover a importação isenta de impostos de equipamentos de data center para todo o País; e regulamentar o uso e a proteção de dados em AI de forma clara para conseguir atrair investimentos.

O Chile, por sua vez, aprovou uma lei de proteção de dados que irá criar uma agência responsável pela supervisão, tratamento de reclamações e aplicação de penalidades a entidades dentro e fora do país que processam dados de indivíduos ali localizados.

Mais fatores que pesam em decisões de investimento do tipo são: considerações geográficas, como baixo risco de desastres naturais, proximidade com clientes, logística; questões imobiliárias, como a existência de terrenos adequados e baratos, leis de zoneamento e oportunidades de expansão; e a qualidade da força de trabalho relacionada a TI no local.

Se atacarem suas ineficiências, Brasil e Chile têm chances de se tornar “paraísos para data centers,” disse o BTG, o que pode beneficiar diversas empresas.

No Brasil, o banco cita Eletrobras, Auren, Copel, Engie e Cemig, devido aos seus portfólios de energia, além de empresas que sofrem com cortes no fornecimento de energia renovável, como Equatorial, CPFL e Neoenergia.

Já Colbun, Engie Chile e Enel Chile são as picks dos analistas para o país vizinho, enquanto teles como Vivo e Entel também poderão se beneficiar.