Imagine um robô que avisa ao seu chefe que você vai fazer hora extra – antes mesmo de você ter notado que vai precisar trabalhar mais naquele dia. Ou que diga que você está perdendo o cliente do outro lado da linha – e que é hora de mudar a abordagem.
Este Big Brother corporativo, permitido pela IA em tempo real, já está sendo usado por empresas no Brasil.
A Evope, por exemplo – uma startup que atende clientes como Natura&Co, Fleury e Quinto Andar – já monitorou 5,4 milhões de horas de trabalho dos funcionários de seus clientes só este ano.
A startup instala um software no computador corporativo dos funcionários e, a partir daí, consegue acompanhar seu padrão de comportamento: a hora em que o computador é ligado, o tempo que o funcionário passa em cada atividade, o tempo desconectado, e a duração de reunião em salas virtuais.
A Evope nasceu antes da popularização da inteligência artificial generativa, e muitos dados coletados por seu software podem ser analisados por algoritmos simples, que conseguem saber, por exemplo, o tempo gasto pelos funcionários fazendo Ctrl+C Ctrl+V – muitas vezes entre planilhas e sistemas de gestão da própria empresa.
Este é um indicativo de que os sistemas de integração não estão funcionando, e o funcionário está gastando tempo com atividades repetitivas desnecessárias, disse Danilo Lira, cofundador da Evope.
Mas com o advento da IA generativa, o software da Evope passou também a fazer previsões, e já é capaz de fazer robôs a partir de robôs. (O robô observa as ações repetitivas dos colaboradores e cria uma automação, ou seja, um outro robô que replica esse comportamento em larga escala, economizando o tempo do funcionário.)
“A plataforma consegue prever quando um funcionário fará hora extra, permitindo que o gestor tome medidas preventivas, como redistribuir tarefas ou bloquear a máquina no final do expediente,” disse Danilo.
Em alguns casos, a IA generativa é usada para se comunicar com os próprios funcionários. “No RH de uma das nossas clientes, descobrimos que 60% do tempo de alguns funcionários era usado para responder perguntas muito simples de outros funcionários,” diz Danilo.
“A beleza da IA generativa é que as conversas com os robôs ficaram muito mais naturais, e os colaboradores nem percebem que não estão falando com um humano.”
Este tipo de conversa com a IA também já é usado (num nível mais avançado) na Startse, uma plataforma de cursos voltados para o mundo dos negócios.
A IA da Startse faz treinamento com os vendedores e consegue saber se eles estão seguindo o padrão de vendas. Também analisa a linguagem e o comportamento dos vendedores e como os clientes reagem. Com isso a IA pode sugerir caminhos para que o vendedor melhore sua performance.
Um dos fundadores da Startse, Fabio Neto, diz que o uso da IA reduziu em 17% o custo de vendas e aumentou em 52% as vendas efetivas. “A IA pode fornecer insights sobre o comportamento do cliente, permitindo que os vendedores personalizem o atendimento e ofereçam uma experiência mais satisfatória,” disse Fabio.
Os funcionários e vendedores por sua vez podem ter a sensação de que estão sendo monitorados. Por isso, a comunicação sobre como a IA pode ajudar no trabalho e não ser uma ameaça é fundamental.
No ano passado, a Evope decidiu chamar um novo sócio, Rodrigo Savino, que tem expertise justamente na área de RH. Sua missão: explicar às empresas como o software também traz vantagens para os funcionários.
A ideia do produto da Evope nasceu quando três programadores com 20 anos de profissão precisavam mostrar a seus chefes o quanto produziam fazendo home office. Foi assim que os amigos Danilo Lira, Lucas Ferreira e Gleidson Gonçalves Dias criaram o software – ironicamente fora do expediente.
Fundada apenas com o investimento pessoal dos fundadores, a empresa deslanchou quando veio a pandemia e o boom do home office.
Na sequência, eles perceberam que a produtividade do trabalho presencial era pouco conhecida pelos gestores – descobrindo assim mais uma utilidade para o software.
Hoje a Evope fatura R$ 3 milhões e cresce 80% ao ano.