Filas quilométricas em Santos. Reportagens sobre os perigos do rebite – as anfetaminas usadas pelos caminhoneiros que precisam dirigir a madrugada inteira. Falta de áreas de descanso. Depois de enfrentar todos esses perrengues, segundo a ANTT 40% dos caminhoneiros ainda voltam para casa com os caminhões vazios, deixando de faturar.
Quanto às estradas brasileiras pode não haver esperança, mas algumas startups estão usando a tecnologia para resolver pelo menos o problema da falta de carga. A Cargo X é a mais famosa e a mais jovem dedicada a esse problema. Lançada em março deste ano, ela ficou conhecida como ‘Uber dos caminhões’, porque tem entre seus fundadores Oscar Salazar, um dos criadores do Uber.
Seu modelo de negócios, porém, está mais para o Airbnb, já que ela usa a ociosidade dos caminhões que já estão rodando de forma autônoma ou vinculados a alguma transportadora. A Cargo X conecta os caminhoneiros a transportadoras por meio de um aplicativo.
Se, por exemplo, um caminhoneiro carregou uma carga de São Paulo até Manaus por meio de uma transportadora, mas não tem carga para trazer no trajeto de volta, a Cargo X o conecta com quem queira transportar uma carga de Manaus até São Paulo. E faz dinheiro cobrando, do dono da carga, entre 5% e 15% do valor do frete.
Cinco investidores — incluindo um fundo de private equity da Goldman Sachs e um ex-CEO da DHL Express — injetaram semana passada US$ 10 milhões na Cargo X. Foi o segundo aporte recebido pela empresa em seis meses. Em fevereiro, um mês antes de entrar em operação, ela recebeu US$ 4 milhões numa rodada liderada pelo Valor Capital Group, um fundo que investe no Brasil e nos EUA.
Há pelo menos duas concorrentes nesse mercado. A TruckPad opera desde 2013 e se vende como uma empresa que facilita a vida do caminhoneiro. Em vez de procurar sozinho uma carga para retornar ao seu local de origem, ele paga 2,5% do valor do frete para a TruckPad. Segundo a empresa, os atravessadores costumam cobrar de 20% a 30%. Diferentemente da Cargo X, porém, a TruckPad não assume os riscos envolvidos no transporte, que ficam com quem contrata o caminhoneiro.
A TruckPad é uma das empresas do portfolio de investimentos da Movile, dona dos aplicativos iFood, LBS Local (fusão do Maplink com o Apontador) e o Rapiddo, uma espécie de Uber para motoboys.
O empreendimento pioneiro no ramo, no entanto, foi a Fretenet. Criada em 1998 como um site para divulgar fretes, veículos, produtos e serviços ligados ao transporte de carga por rodovias, o negócio não vingou. Em 2008, com a internet brasileira mais desenvolvida, a empresa voltou ao mercado com o nome quase-estatal de Fretebras, além de um novo site. Hoje, a empresa tem um aplicativo com funções semelhantes às das demais concorrentes.
Apesar da crise econômica ter afetado o consumo e reduzido o transporte de carga, o faturamento da Cargo X tem dobrado a cada mês e a empresa espera faturar R$ 50 milhões este ano.
“Com a crise, todas as empresas buscam reduzir dois custos: de pessoal e de logística”, diz Fernando Vega, presidente e sócio da Cargo X. Segundo ele, sua solução chega a reduzir em 30% os gastos com transporte.
A startup também desenvolveu um monitoramento dos caminhões através de drones, mas ainda em fase piloto. Essa tecnologia, chamada de Safety Cargo, reconhece quando o motorista faz paradas não programadas e permite que se acione um ‘botão de pânico’ em caso de emergência.
O Brasil transporta 65% de toda sua carga por meio de rodovias, e estima-se que o prejuizo com o roubo desses produtos chegue a R$ 3 bilhões por ano.
Nos Estados Unidos, uma empresa de modelo de negócios semelhante ao dessas startups, a Coyote Logistics, foi vendida no ano passado por US$ 1,8 bilhão para a UPS. Fundada em 2006, a empresa fatura mais de US$ 2 bilhões.