Howard Marks publicou um novo memo sobre os impactos – quase sempre desastrosos – de impor soluções políticas a problemas econômicos. 

No artigo Mais sobre revogar as leis da economia – continuação de um texto seu de setembro de 2024 – o fundador da Oaktree abordou as consequências de políticas como controle de aluguéis e a imposição de tarifas comerciais para a economia e o bem-estar dos americanos.

Marks escreveu sobre os Estados Unidos, mas os paralelos com o Brasil são óbvios. 

Na Califórnia, a tentativa de proteger moradores de áreas de risco – limitando quanto as seguradoras podem cobrar por apólices de incêndio – teve o efeito oposto ao desejado quando o fogo tomou conta de parte do estado no início deste ano.

Marks usou a assistente de IA da Perplexity para dar o contexto do mercado de seguros na Califórnia. O resultado ficou “bem próximo ao que eu teria produzido em uma ou duas horas”. “Sinal dos tempos”, escreveu.

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As seguradoras foram proibidas de usar modelos projetados para prever riscos futuros ao definir taxas para o risco de incêndios florestais. 

A lei da Califórnia obriga essas empresas a basear seus preços nas perdas médias dos 20 anos anteriores – o que não captura o fato de os incêndios florestais terem se tornado mais frequentes e severos.

Além disso, afirma o gestor, as seguradoras não podem aumentar os prêmios para refletir os custos crescentes de resseguro.

A consequência dessa regulação engessada, diz Marks, foi a saída do mercado de grandes seguradoras privadas. Com isso, quando os incêndios ocorreram, menos de um quarto das propriedades afetadas tinha seguro contra isso.

“O governo pode limitar o preço que uma seguradora pode cobrar, mas não pode obrigá-la a oferecer cobertura por esse preço.”

No caso das tarifas, Marks reconhece que elas podem ter um papel em situações específicas: proteção de indústrias estratégicas, produção de itens vistos como essenciais para a segurança nacional ou reação a práticas comerciais desleais. 

Antes do “Liberation Day” de Donald Trump, a expectativa era que a Casa Branca implementasse tarifas “seletivamente para alcançar esses objetivos”.

Não foi o que ocorreu, e isso causará preços mais altos para o consumidor americano, perda de competitividade global, queda na qualidade dos produtos domésticos e, ironicamente, diminuição das exportações, escreveu Marks.

O investidor citou o historiador Niall Ferguson, que, logo depois do anúncio do choque tarifário de abril, lembrou que todas as economias desenvolvidas, inevitavelmente, fazem a transição de manufatura para serviços à medida que enriquecem. 

O ponto de corte, segundo Ferguson, é a renda per capita de US$ 40 mil, “depois do qual a manufatura como participação do emprego começa a declinar”.

“Não existe um mundo em que essas políticas possam levar à reindustrialização dos Estados Unidos.”

Marks conclui dizendo que o livre mercado não produz soluções perfeitas, mas que a tentativa de controlar o que se faz na economia nunca deu certo. 

“Não funcionou para a União Soviética, não funcionou ao tentar proteger os proprietários de imóveis dos incêndios na Califórnia, e não funcionará em outros casos.”

Na sua visão, os governos deveriam deixar os mercados trabalhar livremente e lidar com os “efeitos colaterais indesejáveis” – por exemplo, oferecendo requalificação e apoio financeiro a trabalhadores que perdem seus empregos. 

“Otimizar o bem-estar geral é diferente de garantir que todos prosperem.”