O Nubank reportou mais um trimestre com lucro e ROE recordes — mas pela primeira vez desde o início de 2022, entregou um número abaixo do consenso do sellside.
O lucro líquido veio em US$ 360 milhões com um ROE de 23% — a maior rentabilidade trimestral da história do banco digital fundado por David Vélez.
Depois de bater o mercado por sete vezes consecutivas, os analistas subiram suas projeções para o quarto tri, com o consenso Bloomberg estimando US$ 368 milhões.
No final do mês passado, o Nubank chegou a tentar recalibrar as estimativas do mercado, o que levou a uma leve correção de alguns analistas. Naquele dia, o consenso era maior, em US$ 383 mi.
No Itaú e BTG, as expectativas para o resultado de hoje eram ainda maiores que o consenso: US$ 390 milhões (ROE de 25%) e US$ 382 milhões (ROE de 24%), respectivamente.
A inadimplência do Nubank se manteve controlada no trimestre, com o NPL de 15 a 90 dias caindo de 4,2% para 4,1%, e o NPL de 90 dias ficando estável em 6,1%.
As provisões até caíram — para US$ 592 milhões — por um fator pontual: a companhia fez renegociações com os devedores, principalmente por meio do programa Desenrola do Governo Federal, que geraram uma redução de US$ 60-70 milhões nas provisões.
Em termos de resultado isso teve um efeito neutro, já que a companhia teve despesas financeiras da mesma magnitude com os descontos dados. “Ainda assim, achamos que VPL de longo prazo é positivo, e isso também gera uma percepção positiva com os clientes,” o CFO Guilherme Lago disse ao Brazil Journal.
A carteira de crédito do Nubank acelerou no trimestre, crescendo 14% (excluindo os efeitos cambiais) para US$ 18,2 bilhões. No tri anterior, ela havia crescido 10%.
A carteira de cartão de crédito saiu de US$ 12,3 bi para US$ 14,5 bi, enquanto a de empréstimo pessoal foi de US$ 3,1 bi para US$ 3,7 bi.
O Nubank disse ainda que sua receita média mensal por cliente ativo (o ARPAC) chegou a US$ 10,60, em comparação aos US$ 10 do terceiro tri, ao mesmo tempo em que custo de servir se manteve estável em US$ 0,90 — o que tem gerado uma alavancagem operacional forte para a empresa.
O índice de eficiência — que mostra o quanto o banco precisa gastar para fazer determinada receita — fechou o quarto tri em 36%, em comparação aos 35% do terceiro tri e os 55% de um ano atrás.
Lago disse que o banco fechou 2023 como uma das “únicas fintechs do mundo que combina alto crescimento, alta rentabilidade e uma boa qualidade de crédito.”
Ele destacou ainda que o ROE do Brasil — ou seja, excluindo as operações do México e Colômbia, que ainda dão prejuízo — ficou acima de 40% no quarto tri.
Para este ano, o CFO disse que o Nubank elegeu quatro prioridades.
A primeira é “ganhar o jogo” no México, onde a fintech tem 5,5 milhões de clientes e lançou há alguns meses a Cuenta Nu. A segunda é acelerar os empréstimos pessoais com garantia, como o consignado e o crédito com garantia do FGTS, e a terceira é ganhar share entre o público de alta renda no Brasil.
Por fim, o Nubank quer implementar o que ele chama de ‘money platform’ no Brasil, que basicamente é expandir o Nubank de um banco digital para uma plataforma tecnológica de consumo — que tenha atividade financeira e não-financeira, como ecommerce e soluções de inteligência artificial.
Lago disse que não espera que a operação do México e Colômbia cheguem no breakeven este ano, já que as duas ainda estão em fase de altos investimentos para ganhar escala.
Segundo ele, os prejuízos das duas operações até podem aumentar, dado que a operação de cartões de crédito está começando agora, e sempre que o Nubank emite um novo cartão para um cliente é preciso fazer a provisão na cabeça.
O Nubank não passa guidance de curto prazo, mas o CFO disse que, olhando para os próximos anos, “achamos que estamos longe de ter chegado no ponto máximo da fronteira de rentabilidade.”
“Temos três vetores de crescimento de rentabilidade. O Brasil, que é uma operação com crescimento forte, mas mais madura. O México e a Colômbia, que estão gerando prejuízo, mas uma hora vão virar. E os US$ 2,4 bilhões que temos de excesso de caixa na holding, sendo remunerados a taxas muito baixas,” disse ele.
Hipoteticamente, se o Nubank distribuísse esses US$ 2,4 bi em dividendos para seus acionistas, o ROE já subiria muito, porque o patrimônio líquido do banco cairia de US$ 6 bi para US$ 3,6 bi.
“Não é isso que queremos fazer. Nossa ideia é alocar esse excesso de caixa em outras oportunidades, principalmente de crescimento orgânico,” disse Lago. “E nossa régua é sempre investir com uma TIR mínima de 30%.”
A ação do Nubank fechou a US$ 10,36, com a empresa valendo US$ 49 bilhões. O papel cai 2,5% no after-market.