Voei para Santiago com o objetivo de fazer o que mais tenho dificuldade, mas que me é tão necessário: descansar. Passei duas noites sendo paparicada na vinícola Clos Apalta, um Relais & Châteaux pertencente à família Lapostolle, os criadores do licor Grand Marnier.
A vinícola fica no Vale de Colchagua, a duas horas e meia da capital, em uma das regiões mais importantes de vinhos do Chile.
Quem começou a história da família no Chile foi Alexandra Marnier Lapostolle, no início dos anos 1990. A empresa hoje é tocada por seu filho, Charles-Henri de Bournet, que conta como sua mãe foi parar no Chile.
Minha mãe, Alexandra Marnier Lapostolle, sempre sonhou em fazer o vinho perfeito. Ela passou anos em busca de um terroir excepcional, com o objetivo de criar um vinho singular. Isso faz 25 anos. Tendo atravessado diversos continentes, ela encontrou o lugar perfeito no Vale do Apalta. Para que seu sonho virasse realidade, ela ouviu as montanhas e o ar, sentiu o potencial extraordinário do lugar, e então o adestrou.
Assim nasceu o Clos Apalta, uma espécie de interpretação chilena de um Grand Cru de Bordeaux. O Clos Apalta tem como diferencial a uva carménère – originada em Bordeaux e hoje símbolo do Chile – mas todo o seu método de fabricação e o estilo que se busca obter é francês. É um vinho que tem potência com elegância, como um soco de boxeador que usa uma luva de pelica.
Comecei meu dia na vinícola fazendo uma pequena trilha para sentir o terreno. Os perfumes que senti no ar fizeram com que eu logo percebesse que estava em um lugar especial. Descobri mais adiante que a vinícola fica em um “micro-clima” denominado “semi-mediterrâneo,” com chuvas no inverno e um longo e seco verão, permitindo que as uvas atinjam a maturidade perfeita. Em termos técnicos, essa oscilação térmica favorece o acúmulo de antocianinas, dando profundidade e riqueza aos vinhos.
Depois da caminhada, voltei ao quarto para trocar de roupa. O quarto — são apenas 10 no total — é na verdade uma casa de 200 m², com direito a piscina privativa olhando para o vinhedo.
Voltei para a sede para o café da manhã, onde ovos, geleias caseiras, iogurte feito in loco, sucos frescos e frutas da estação eram alguns dos itens expostos em uma sala muito charmosa.
Alimentada, fui dar uma volta na feira da cidade com o Cristhian, o chef do hotel. Compramos alguns ingredientes da estação, que depois usamos para cozinhar o almoço. A feira fica em Santa Cruz, a maior cidade da região, com 40.000 habitantes. Aproveitamos para dar uma volta pela praça principal, cuja arquitetura colonial está bem preservada.
O almoço, como todas as refeições no Clos, estava maravilhoso. Começamos com um polvo, seguido por uma corvina servida com risoto de cogumelos, e terminamos com uma sobremesa feita à base de maçã verde. Todos os pratos foram acompanhados por excelentes vinhos, escolhidos a dedo pelo sommelier Dragan. Descobri depois, durante a degustação de vinhos que fizemos à noite, que ele vem dos Balcãs!
Para digerir o banquete, passeei pelas vinhas com o Daniel Larrondo, o sub-gerente do hotel. Ele me contou sobre a história do lugar, e me deu uma aula sobre como o solo, a água e a topografia são determinantes para a produção dos vinhos. Dali saem o Clos Apalta e Petit Clos — que viajam para o mundo inteiro – e outros que são exclusivos para a venda local, como a linha Clos du Lican.
Tem uma parte da vinícola — de onde vêm os vinhos com o rótulo “La Parcelle 8” — onde as vinhas têm mais de 100 anos.
Foi uma visita rápida, mas suficiente para eu voltar descansada para São Paulo – claro, com uma caixa de vinhos para matar as saudades.
Paula Nazarian é autora da newsletter Newz da NAZA.