Cuidado com aquele fundo de infraestrutura que você tem na carteira — o prefeito do Rio e um dos mais altos magistrados do País estão colocando tudo em risco.

Em mais uma canetada que aumenta a insegurança jurídica no País, o novo presidente do STJ, Humberto Martins, derrubou ontem três decisões judiciais distintas e permitiu a encampação da Linha Amarela pelo Município do Rio de Janeiro, uma antiga cruzada do Prefeito Marcelo Crivella.

A liminar concedida pelo desembargador permite a expropriação de um ativo da Invepar — dona da Linha Amarela, Metrô do Rio e do Aeroporto de Guarulhos — e dos fundos de pensão que são seus controladores: Previ, Funcef  e Petros.

Com R$ 9 bi em dívida na Invepar, a perda de um de seus principais ativos aumenta o risco de colapso de mais um conglomerado de infraestrutura do País.

Segundo a Constituição Federal, a cidade do Rio de Janeiro agora teria que indenizar a Invepar antes de tomar o ativo, mas Crivella quer fazer a coisa de outro jeito.

Em novembro passado, o prefeito enviou à Câmara um projeto de lei complementar para expropriar a Linha Amarela.  O projeto foi aprovado em 48 horas, por 47 votos a zero.  Usando lógica kafkiana, o projeto dizia que a indenização fica considerada paga devido aos prejuízos supostamente apurados pela cidade.  (A lei já foi considerada inconstitucional.)

Com um governo que se diz “liberal” em Brasilia e com “conservadores” no poder na União, no Estado do Rio e no Município, o Rio — se tivesse alguma intenção de indenizar a concessionária — teria que tirar recursos de escolas e hospitais para comprar de volta uma via de pedágio, mostrando que os rótulos e atitudes da velha esquerda e da nova direita se encontram no denominador comum do populismo. 

Humberto Martins foi na contramão de todo o Judiciário. Até agora, a Linha Amarela (Lamsa) havia ganho todas as decisões judiciais. Foram 18 decisões favoráveis à concessionária e contra demandas da prefeitura — incluindo duas do próprio STJ e uma do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Essa decisão é uma violação ao contrato de concessão regularmente celebrado, mas também atinge a confiança de investidores privados de infraestrutura de todo o país, abalando a segurança jurídica e a Constituição Federal. No entanto, a empresa exercerá seu direito de recurso e segue confiando na Justiça para garantia do direito de operação da concessão”, afirmou a Lamsa em nota.  

 
Crivella agradeceu a Martins, a quem chamou de “ministro evangélico.” 

 
“Quero agradecer do fundo do meu coração ao ministro evangélico, da fé, o ministro Humberto Martins, que decide pelo povo, que ama Deus e verificou que nós tínhamos direito.”  
 
A decisão de Humberto Martins acontece quando Estados e municípios estão prestes a iniciar um amplo programa de privatização no saneamento, depois do Congresso finalmente aprovar uma lei para o setor.    Agora, cada cidade ou Estado tende a receber menos pela sua concessão.