A polarização da política e a tinta ainda fresca da História talvez ainda impeçam o Brasil de dar o crédito merecido por Paulo Guedes, um ministro improvável de um governo idem, mas que – quando se põe tudo na balança – colocou o País no rumo de um Estado menor e mais eficiente.
Agora, oito meses depois de deixar o Governo, o ex-superministro da Economia está de volta à planície – com planos de repetir o que sempre fez em suas encarnações anteriores como banqueiro e investidor de private equity: juntar pontas soltas da realidade brasileira e, a partir de uma leitura micro diferenciada, criar algo inovador.
Guedes está fundando a YVY, uma gestora focada em teses que aliem crescimento e sustentabilidade, tentando capturar a oportunidade da transição energética.
A YVY terá como sócios o ex-ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite; o ex-presidente do BNDES, Gustavo Montezano; o ex-embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo; o ex-diretor de infraestrutura do BNDES, Fábio Abrahão; e Rodrigo Xavier, um ex-CEO do Bank of America no Brasil que começou sua carreira no velho Pactual e que Guedes tentou fazer presidente do BID.
A YVY já está conversando com investidores globais, particularmente os europeus, para captar recursos e começar a operar.
“Queremos investir na turma que está realmente produzindo a transição energética, e não em quem abraça árvore, toma ayahuasca e chama isso de ESG,” brinca o ex-ministro.
Para ele, “o Brasil vai ser protagonista dessa transição. Temos tudo. Temos um ambiente muito bom para solar e eólica. Vamos produzir hidrogênio verde e amônia verde baratos… O que precisamos é transformar tudo isso numa alavanca para gerar uma descarbonização produtiva.”
Para o ex-ministro, a visão convencional de ESG prega que é preciso “parar de crescer” para se chegar à transição energética.
“Nossa tese é o contrário: acreditamos numa transição energética rentável, que gere crescimento e aumento de produtividade.”
Quando era Ministro, Guedes arquitetou o Green Growth Program, uma série de iniciativas para o Brasil crescer preservando o meio ambiente.
O plano – que veio já no final do Governo e acabou não saindo do papel – foi uma resposta de Guedes à pressão da OCDE sobre os problemas ambientais brasileiros. O Ministro, por sua vez, usou a interlocução sobre o assunto espinhoso para colocar o Brasil na frente da fila de acesso à OCDE, uma posição antes ocupada pela Argentina.
Além da YVY, Guedes vai voltar a atuar na educação: está se tornando chanceler da Universidade de Vila Velha (UVV), a única universidade particular do Espírito Santo, que ficou em primeiro lugar no último ENADE e é uma das únicas universidades do Brasil a integrar o Times Higher Education, um respeitado ranking universitário global.
Guedes também quer inovar com uma nova formação que ele chama de MBI, o Master of Business Innovation, para desenvolver competências na economia verde que se interligam com o propósito da YVY.
“Nossa ideia é formar pessoas, capital humano, que consigam trabalhar nesse ecossistema de transição energética,” disse ele. “Com a YVY vamos investir, por exemplo, em fábricas verdes de fertilizantes nitrogenado. E vamos precisar de pessoas que trabalhem e operem isso com uma visão de inovação e negócios.”
De certa forma, Guedes repete com seus novos negócios um caminho que já trilhou no passado, bem antes de entrar para o Governo.
Ele compara sua empreitada com a YVY com seu trabalho nos primórdios do Banco Pactual – que formou toda uma geração e se tornou um padrão de excelência no mercado financeiro brasileiro – e com seus investimentos em educação na BR Investimentos, em que fundou empresas como a Abril Educação e a Afya.
Já o projeto do MBI tem um paralelo com seu trabalho no IBMEC, onde ajudou a desenvolver o MBA executivo e a criar um novo modelo de negócios.
Tanto seu papel na UVV quanto a iniciativa de lançar um MBI mostram um Guedes que nunca esqueceu o conselho que o velho Mário Henrique Simonsen lhe deu nos anos 80: “Funda seu banco [o Pactual], mas continua na academia, na faculdade.”
Quarenta anos depois, Guedes relembra e reflete: “O Brasil sempre teve instituições de excelência – mas como difundir conhecimento? Como educar uma população? Como permitir que as pessoas sobrevivam nessa desordem financeira que é o Brasil? A inovação financeira daquela época gerava a demanda por novas instituições educacionais, e agora a oportunidade da economia verde vai gerar novas demandas por conhecimento.”