Menos de uma semana depois da prisão de André Esteves, os sócios do BTG Pactual parecem ter chegado a um consenso sobre como agir para salvar o banco da crise de confiança que ameaça a continuidade do negócio.
O cerne da estratégia é a venda de todos os investimentos de private equity do banco, um movimento que deve gerar o efeito positivo duplo de capitalizar os sócios e isolar o banco de possíveis novas revelações, no âmbito da Lava Jato, envolvendo algumas das empresas.
A decisão de ‘shrink to survive’ deve deixar nas mãos dos sócios do BTG apenas o negócio bancário. Se o redesenho planejado for levado inteiramente a cabo, o ‘novo BTG’ pode acabar tendo apenas 20% de seu tamanho atual, mas terá preservado suas principais franquias de trading, banco de investimentos e gestão de recursos, talvez ensejando um novo nome — Back to Basics (BTB) — para o banco que Esteves já chamou de ‘Better than Goldman’.
A operação também tem o benefício extra de tornar o banco mais vendável daqui a alguns anos, quando a economia e a política permitirem que o Brasil volte a ser atraente para o mundo.
“Eles têm talento lá dentro para tocar esse banco,” diz uma fonte com trânsito no BTG. “Se eles não estiverem no meio de uma crise de liquidez e não tiverem um monte de pepino para ter que lidar no dia a dia, eles podem recomeçar a vida focados em trading e investment banking, que são as principais competências do time, aliás.”
A ideia dos sócios do BTG — agora comandados pelos co-CEOs Roberto Sallouti e Marcelo Kalim — é priorizar a venda para os atuais acionistas das empresas investidas, aceitando descontos de 10-20% nos ativos de melhor qualidade e sendo menos sensíveis a preço nos ativos tidos como mais problemáticos.
O primeiro passo desta estratégia foi dado já no fim de semana quando, conforme anteciparam os repórteres Fernando Scheller, Monica Scaramuzzo e Sonia Racy do Estadão, os sócios venderam rapidamente sua participação na Rede D’Or, uma operação que deve fechar entre hoje e amanhã e levantar mais de 2 bilhões de reais.
Além disso, espera-se que o BTG venda hoje um bloco de ações da BR Properties num leilão público na Bovespa. O banco tem 35,8% da empresa e pretende vender 5,9%. Se houver demanda, é provável que venda mais.
A estratégia deve proporcionar compras oportunísticas para investidores capitalizados e atrair fundos de private equity para tomar o lugar que hoje é do BTG nas empresas investidas. Além da Rede D’or e da BR Properties, o mercado considera que os ativos mais líquidos do portfólio do BTG são a rede de estacionamentos Estapar, a PetroAfrica (a controversa sociedade do banco com a Petrobras) e a empresa de mídia UOL.
Outros ativos, que sofrem com maior grau de alavancagem ou outros problemas, também estão à venda, como a Estre Ambiental (empresa de coleta de lixo e tratamento de resíduos em parceria com o empresário Wilson Quintella), a rede de drogarias BR Pharma, a cadeia de vestuário Leader Magazine, a AGN (holding de mineração em sociedade com o ex-CEO da Vale, Roger Agnelli) e a EDLP (holding de logística em parceria com o empresário Guilherme Quintella).
26/04/2012 – O BTG Pactual faz seu IPO na BM&F Bovespa. Da esquerda para a direita: Renato Santo, Antônio Carlos Porto, André Esteves, Guilherme Paes, Pérsio Arida e Roberto Sallouti.
Foto de Luiz Prado / LUZ
Em relação ao maior pepino da carteira, a Sete Brasil, há um crescente consenso entre os acionistas da empresa — incluindo o BTG — de que o destino inevitável da companhia será um pedido de recuperação judicial (RJ, no jargão do mercado). Uma vez em RJ, a idéia do BTG é segregar completamente o investimento na Sete Brasil, numa estrutura análoga ao ‘good bank/bad bank’ adotado por alguns bancos americanos depois da implosão de 2008.
Terminado este processo, os sócios pretendem dar tratamento aos outros ativos do banco conforme a necessidade. As ideias aqui ainda estão fluidas, mas, para a área de commodities, o banco considera um spinoff para alguns sócios tocarem o negócio — um movimento que não traria caixa mas desalavancaria o banco. O destino do Banco PAN (o antigo Panamericano) poderia ser uma venda para a Caixa (a preços populares), e as operações internacionais podem ser vendidas ou entregues a sócios. Nada aqui está sacramentado.
Depois do tsunami de notícias ruins nos últimos dias, a estratégia de ‘Back to Basics’ parece retirada do manual “O que fazer quando seu conglomerado de banco e ‘merchant bank’ enfrenta uma crise”.
A avaliação de que é preciso abdicar dos anéis para se conservar os dedos é, olhando de fora, uma reação racional, lógica e saudável para qualquer instituição enfrentando o desafio do banco hoje.
Tudo ali faz muito sentido. Mas, se vai funcionar, talvez isto hoje dependa menos do BTG e mais deste conjunto de forças chamado mercado.