O Itaú se descolou da concorrência nos últimos anos ao combinar crescimento robusto com um ROE acima de 20% – o que explica o prêmio da ação frente aos pares.
Mas o que o banco vai detalhar amanhã, num Investor Day aguardado com expectativa pelo mercado, deve mostrar que existe upside risk na tese, ou seja, um potencial de ganho ainda maior que o esperado.
As mudanças que o Itaú vêm implementando desde 2015 – e com maior ênfase desde 2020 – devem permitir que o banco passe a atender clientes que hoje ignora por não serem rentáveis, principalmente nos segmentos de PMEs e no varejo de baixa renda.
“Com cautela e cuidado, queremos atrair o cliente do massificado, que nunca foi o centro da nossa estratégia,” disse Renato Lulia, o diretor de estratégia corporativa e relações com investidores, que antecipou ao Brazil Journal os principais pontos a serem apresentados no Investor Day.
Um fator que pode tornar esses clientes rentáveis é a redução dos custos do banco, que já vem acontecendo e tende a ganhar força com a maturação dos investimentos em tecnologia e a reorganização das agências.
O índice custo-receita do varejo no Itaú caiu de 51% em 2021 para 42% neste ano, e deve chegar a 35% até 2028, segundo o BTG Pactual. Bradesco e Santander não divulgam esse indicador para o varejo, mas analistas estimam que seja superior a 50%.
Outro fator é a “hiper customização” da oferta de produtos e serviços. Isso é fruto dos investimentos em tecnologia – que permitem ao banco conhecer melhor o cliente – e também de uma reestruturação interna.
No passado, segundo Lulia, o Itaú era organizado em verticais de produtos: o objetivo de cada área era maximizar seus números para assim impulsionar os resultados do banco.
“Hoje o valor está em maximizar o relacionamento com o cliente para aumentar o cross-sell,” disse Lulia. Uma iniciativa nesse sentido foi a unificação de produtos e serviços num único app: assim, um cliente que só tem cartão de crédito, por exemplo, pode se tornar correntista sem precisar refazer o cadastro.
“O banco entendeu antes dos demais que a principalidade é o nome do jogo – e que o cliente precisa estar no centro,” escreveu num relatório recente o time de Eduardo Rosman no BTG.
A melhora dos resultados do Itaú nos últimos anos é explicada pelo início de implementação dessa estratégia.
Se este processo continuar, o banco deve ser capaz de crescer mais e de forma mais rentável ao capturar clientes que hoje só fazem sentido para instituições com níveis de despesa mais baixos, como o Nubank e o Inter – mas que têm dificuldade no cross-sell.
O Itaú não publica guidance para anos à frente, mas a XP acaba de estimar que o ROE pode chegar a 25%, numa projeção otimista.
Para o BTG, se o Itaú conseguir de fato entregar um plano de eficiência mais agressivo nos próximos anos, poderá reinvestir uma parte maior do excesso de capital e elevar seu múltiplo justo de price-to-book — “o que pode ser um suporte importante para a reprecificação das ações.”
O Itaú negocia hoje a 1,9x book — um prêmio em relação aos peers. Santander, Bradesco e Banco do Brasil negociam a 1x, 0,8x e 0,6x, respectivamente.