O resultado do segundo tri do Bradesco trouxe poucos sinais de alívio e muitos de preocupação.

Os principais pontos de atenção continuam centrados na carteira de crédito. Para tentar segurar a inadimplência, o banco emprestou menos, o que reduziu a margem com clientes em 1,8% frente ao primeiro trimestre e em 1,7% em relação ao mesmo período de 2022. 

Ao mesmo tempo, a despesa com provisões aumentou, e a inadimplência – ainda que tenha se estabilizado entre maio e junho – cresceu na comparação com o primeiro tri. 

Isso aconteceu em todas as carteiras, mesmo excluindo o impacto do episódio Americanas. 

O dado um pouco mais positivo foi a ‘NPL creation’ (o surgimento de novos empréstimos com problemas), que ficou estável em torno de R$ 12 bilhões. 

“Mas estabilizou num patamar muito alto, e isso dificulta um caminho de retomada,” disse um analista. No mesmo período do ano passado, a NPL creation havia sido de R$ 9,2 bilhões.

Os números acenderam outro sinal de alerta: como o banco vai voltar a crescer e entregar um ROE próximo dos 18% prometidos pela administração (no segundo trimestre, o ROE ficou em 11,1%, pouco acima dos 10,6% do tri anterior).

“A recuperação tende a ser bem lenta,” disse outro analista. “O Bradesco começa a ter o mesmo problema do Santander, uma dificuldade de crescer. É uma preocupação olhando à frente.”

O lucro líquido de R$ 4,5 bilhões – 5,6% maior que no primeiro trimestre e 35,8% abaixo do mesmo período de 2022 – ficou dentro do consenso, mas parte desse resultado é explicada pela incidência de uma alíquota de imposto menor, em razão do resultado deprimido. 

O lucro antes de impostos ficou em torno de R$ 5 bilhões, 10% abaixo do consenso.  

O grande alívio veio da operação de seguros, bastante relevante para o Bradesco: o resultado chegou a R$ 4,8 bilhões, uma alta de 32% frente ao primeiro tri e de quase 31% em relação ao mesmo período de 2022. 

A margem com o mercado também melhorou e deve seguir nessa tendência com a queda dos juros, segundo analistas. 

O banco também alterou algumas linhas do guidance para 2024. A projeção para o crescimento da carteira de crédito passou de um intervalo de 6,5% a 9,5% para um entre 1% e 5%.

E isso se reflete na margem financeira: a estimativa passou de um intervalo de 7% a 11% para um de 2% a 6%.

Em contrapartida, o Bradesco reduziu a previsão para as despesas operacionais e aumentou a expectativa de crescimento do lucro da seguradora para 21% a 25% (a estimativa anterior era de 6% a 10%). 

Fazendo as mudanças, a projeção para o lucro em 2023 não muda muito (em torno de R$ 20 bilhões), “mas o lucro de 2024 fica comprometido,” disse um analista. 

O banco fará sua call com o mercado amanhã às 10:30 hs.