Único banco estadual ainda listado na Bolsa (e um dos poucos que ainda existe), o Banrisul está pisando em ovos para resolver um conflito.

Seu acionista controlador, o Estado do Rio Grande do Sul, precisa de dinheiro e quer vender ao banco os direitos sobre a folha de pagamento de seus funcionários, que sempre foi paga no Banrisul. (Curiosamente, o Governo aprovou na Assembleia uma lei obrigando o Estado a vender a folha ao Banrisul, e apenas a ele, abrindo mão de um leilão competitivo que poderia maximizar o preço.)Logo-banrisul-2

Ninguém sabe ainda quanto o Banrisul vai ter que desembolsar. Uma matéria na Zero Hora especulou que o valor poderia ficar em 1,5 bilhão de reais (por 5 anos) ou 2,5 bilhões (10 anos) — uma estimativa que a maioria dos investidores acha agressiva — mas o Banrisul já disse desconhecer como foi feito este cálculo.

Para se prevenir, a Polo Capital Management, gestora cujos fundos têm 3,4 milhões de ações do Banrisul, enviou uma carta à administração do banco sublinhando os conflitos de interesse. O Governo do Rio Grande do Sul, hoje comandado pelo PMDB, indica oito dos nove conselheiros do Banrisul, e o presidente do conselho do banco, Luiz Antônio Bins, é o secretário-adjunto da Fazenda do Estado.

De um lado, o Rio Grande quer maximizar o valor de sua folha. De outro, vai usar seu banco para pagar a conta. Bah, mas que baita conflito, tchê!

Como ser justo com todos?

O caminho mais lógico é a constituição de um comitê independente que negocia a operação e faz recomendações ao conselho. Na carta ao banco, a Polo sugere que essa medida seja tomada e lembra que, em operações envolvendo partes relacionadas, o acionista controlador deve se abster de votar.

Os minoritários lembram ainda uma questão contratual. Quando fez seu IPO em 2007, o Banrisul disse em seu prospecto que o Estado lhe dera exclusividade sobre a folha de pagamentos pelo prazo de cinco anos. Esta exclusividade foi estendida em 2012 por mais cinco anos. Ou seja, o Estado pode até vender a folha agora, mas só pode cobrar por ela a partir de 2017. (Obviamente, com algum desconto, o Banrisul poderia pagar este ano por um contrato que começará a vigir apenas ano que vem.)

A Polo também pede que o Banrisul seja conservador na sua avaliação do ativo, já que uma folha de pagamentos não vale hoje o que costumava valer. A partir de 2012, a portabilidade permitiu que os funcionários públicos possam escolher a instituição na qual desejam receber o salário, reduzindo o valor das folhas.

Os temores quanto à governança já parecem refletidos no valor do Banrisul, que hoje negocia a 30% de seu valor patrimonial e apenas 3,3 vezes o lucro estimado para este ano. O banco tem um valor de mercado de 2,35 bilhões na Bovespa.

“De todos os bancos listados, esse é o que tem o balanço mais capitalizado, mais liquidez, e está longe dos créditos corporativos mais complicados. Só que… é controlado por um estado quebrado,” diz um gestor que está avaliando comprar ações do banco.

A colunista da Zero Hora, Rosane de Oliveira, conversou com o presidente do conselho do banco. Bins disse que o valor da folha ‘será definido por uma consultoria’ e que, se a preocupação do Governo fosse exclusivamente levantar caixa, o Governo teria feito um leilão, em vez de passar a lei que garante exclusividade ao banco.

A forma como esta transação vai ser conduzida dará ao Banrisul a oportunidade de mostrar ao mercado que tem uma governança de alto padrão, e que um dos últimos bancos estaduais remanescentes não é — como nos velhos tempos, nada saudosos — o cofrinho do Governo do momento.