Estão ganhando volume as vozes soando o alerta sobre o otimismo exagerado com a inteligência artificial – particularmente em relação aos colossais investimentos na infraestrutura de data centers.
Numa entrevista à CNBC, Roger McNamee, o CEO da firma de venture capital Elevation Partners e um veterano investidor em tecnologia, disse que o capex maciço em IA está sendo feito com base em projeções difíceis de serem avaliadas e com grande chance de não se confirmarem.
“Os EUA amam manias financeiras,” afirmou.
A Elevation foi uma das primeiras a colocar dinheiro no Facebook. Antes de fundar a Elevation, McNamee também foi um dos fundadores da Silver Lake Partners, uma gigante do private equity, e comandou o fundo de ciência e tecnologia da T.Rowe Price.
Para McNamee, há evidências da formação de uma bolha – e, se este for o caso, cedo ou tarde haverá uma correção.
“Estamos fazendo conjecturas sobre o que essa tecnologia pode fazer, mas não conseguimos comprová-las – e estamos aplicando isso em lugares nos quais talvez elas não funcionem,” disse McNamee. “Se este for o caso, essa mania chegará ao fim, e as maiores ações do S&P 500 serão duramente afetadas.”
McNamee detalhou seus argumentos em uma postagem no X.
O gestor observou que os investimentos em data centers já somam US$ 100 bilhões até agora e crescem ao ritmo de US$ 10 bilhões ao mês. “Os maiores investidores – Microsoft, Nvidia, Google, Amazon, Meta – têm toneladas de dinheiro em caixa e dominam o S&P 500. Se eles estiverem errados, será um desastre para os mercados.”
McNamee destacou que a Goldman Sachs publicou um relatório há poucos dias dizendo que os investimentos em capex são excessivos. O documento traz o título sugestivo de “GenAI: Too much spend, to little benefit?”
“A Goldman não é a primeira firma de Wall Street a mostrar preocupação. O Barclays já fez isso. E a [firma de VC] Sequoia também publicou um relatório sobre o capex em IA, dizendo que a indústria precisa de US$ 600 bilhões em receita para justificar o investimento já feito em computação e nuvem,” escreveu McNamee.
Para ele, “quando empresas como a Sequoia e a Goldman Sachs me dizem que existe uma bolha, eu presto atenção.”
Mas em sua avaliação, as razões para desconfiar do potencial da IA não se limitam à frustração com os gastos em capex.
McNamee cita o uso intenso de energia e água na produção de processadores e no treinamento dos sistemas de linguagem.
Segundo ele, “um relatório sugere que meio litro de água é desperdiçado cada vez que você faz uma pergunta a um chatbot.”
Para ele, a AI generativa está “acelerando a mudança climática. Microsoft e Google prometeram ser neutras em carbono em 2030, [mas] a pegada de carbono da Microsoft já subiu 30% em dois anos, e a do Google, 45% em cinco anos.”
McNamee cita ainda questões envolvendo direitos autorais, privacidade, segurança dos dados e desinformação.
“Por causa da mania da GenAI, as pessoas estão tentando aplicar os modelos de linguagem de grande escala em tudo, incluindo uma vasta gama de casos em que eles certamente vão falhar,” disse McNamee.
“As pessoas serão prejudicadas, e algumas não vão se recuperar,” alertou, em referência às fake news e deep fakes. “A segurança deveria ser uma prioridade.”
Em sua avaliação, os modelos de IA não são inteligentes, só “usam estatística para adivinhar a próxima palavra, parágrafo ou imagem mais convenientes. Eles só conhecem o seu treinamento. O que eles fazem melhor é ‘bullshitar’ você. Há mais evidência de que os LLMs são uma fraude, e não a next big thing. Cuidado.”
Como as big techs dominam o S&P 500, McNamee conclui afirmando que, quando a bolha de IA estourar, “as Big Techs não vão quebrar, mas todas as previsões entrarão em colapso, carregando as ações com elas.”
“Não há como saber quando a bolha vai estourar, mas isso vai acontecer,” disse. “Esteja preparado.”