O Brasil está em uma armadilha, preso entre reformas tímidas e um volume crescente de tensões macroeconômicas, disse a consultoria canadense BCA Research, que acaba de publicar um relatório duro e ‘realista’ sobre o que ela diz ser perspectivas pouco animadoras para os ativos brasileiros.

O tom da análise pode ser resumido assim: Brazil? Curb your enthusiasm!

Para os analistas, a vitória de um candidato de direita e pró-mercado poderia trazer um otimismo momentâneo – mas poderá ser uma reação passageira, caso reformas profundas e impopulares não sejam levadas adiante.

Segundo os analistas, a combinação de rigidez estrutural, limitações fiscais e o ambiente político limitam o crescimento futuro justamente quando a política monetária restritiva começa a surtir efeito.Luiz Inácio Lula da Silva

“Os ativos brasileiros ficarão para trás de seus pares nos mercados emergentes nos próximos 6 a 12 meses e, sem um verdadeiro ajuste fiscal, enfrentarão um desempenho inferior persistente no longo prazo,” disseram os analistas.

Ainda de acordo com a consultoria, o País fez algumas reformas recentemente e obteve “avanços notáveis” na regulação de alguns setores, ganhando competitividade – mas as “mudanças continuam incrementais e não alteraram a estrutura de baixa produtividade e alto custo.” A economia corre o risco de ficar estagnada, com “baixo desempenho crônico.”

“O Governo já está com dificuldades para alcançar um superávit primário, apesar de uma economia forte,” disse a BCA. “Qualquer contratempo no crescimento levará à desaceleração das receitas fiscais, ampliando os déficits.

Ao contrário de outras casas de análise que veem uma perspectiva de melhora para os ativos brasileiros – antecipando o ciclo de alívio monetário e a possível vitória da oposição em 2026 – a BCA recomenda que os investidores reduzam suas posições no País.

O Governo Lula não está disposto a implementar “reformas econômicas dolorosas e liberalizantes para impulsionar o potencial de crescimento,” disse a BCA.

De acordo com a consultoria, a valorização recente dos ativos teria ocorrido porque “muitos investidores esperam que um governo de direita em 2027 corrija as finanças públicas.”

“Essa visão é otimista demais,” escreveram os analistas. “Não é certo que um presidente conservador seja eleito. Mais importante, mesmo um governo pró-mercado terá dificuldades com a matemática fiscal.”

Pelas contas da consultoria, mesmo em um cenário relativamente otimista de crescimento de 2% e juro real de 5%, o superávit primário teria que alcançar ao menos 2,3% do PIB para impedir uma deterioração da dívida pública.

Alcançar e manter saldos tão elevados, partindo do atual déficit primário de 0,3% do PIB, exigiria um aperto fiscal drástico, afirmou a BCA – o que é “politicamente difícil sob o atual Governo de Lula ou mesmo sob qualquer outro futuro Governo de direita.”

tarcisio de freitas

Para os analistas, uma eventual vitória da direita traria um sentimento bullish – mas ele perderia fôlego rapidamente, se o novo Presidente não obtiver uma maioria decisiva no Congresso.

“Estamos acompanhando atentamente a situação na Argentina para avaliar se há de fato uma onda pró-mercado na América Latina,” afirmaram.

Para a BCA, uma eventual vitória de Tarcísio de Freitas traria otimismo momentâneo, mas haveria limitações para a implementação de políticas reformistas e de corte de gastos com benefícios sociais por causa da “base populista” de Jair Bolsonaro.

Os analistas da BCA concluíram o relatório afirmando que, no longo prazo, os ativos de risco do País “provavelmente sofreriam pressão de venda, à medida que os mercados percebessem que um Governo de direita só poderá fazer melhorias marginais ou temporárias” em vez de resolver a “insustentável” estrutura fiscal.

“A única maneira de romper esse ciclo pernicioso é um profundo compromisso com o sofrimento.”