A ação da Natura disparou 16,6% depois da companhia fechar a venda da Avon International – um movimento amplamente aguardado pelo mercado e que deixa a empresa com uma estrutura parecida com a que tinha antes de 2017. A empresa ganhou R$ 2 bilhões em valor de mercado em um dia. 

A Natura recebeu o valor simbólico de £ 1 pelos ativos,  que vinham drenando o caixa da empresa de forma recorrente há anos – só no primeiro semestre foram R$ 700 milhões, cerca de 5% do market cap da Natura.

O comprador foi a gestora de private equity Regent, que aceitou ainda pagar um earnout de até £ 60 milhões, dependendo do atingimento de alguns resultados operacionais.  

A venda inclui todos os 34 mercados da Avon International, com exceção da Rússia. A Natura manteve o controle da Avon Latam, que poderá continuar usando a marca sem a necessidade de pagamento de royalties.

Como parte do acordo, a Natura concordou em cancelar os créditos que tinha contra a Avon International, além de dar uma linha de crédito de US$ 25 milhões à empresa, com vencimento em cinco anos após a primeira utilização.

A venda de hoje veio dois dias depois da Natura vender os ativos da Avon na América Central e República Dominicana (Avon CARD), também por US$ 1. Esses ativos foram vendidos para o grupo PDC, uma empresa de bens de consumo da Guatemala. 

O anúncio de hoje “reduz as preocupações sobre a necessidade de aportes adicionais de caixa para sustentar as operações da Avon,” escreveu Ruben Couto, que cobre a empresa no Santander. 

Enquanto a Avon International vinha queimando de R$ 700 milhões a R$ 800 milhões por semestre, a Natura Cosméticos vinha gerando cerca de R$ 1,5 bi em caixa.

Com a venda, a expectativa no mercado é que a Natura volte a ser uma forte geradora de caixa, tendo recursos para investir mais no negócio e até voltar a pagar dividendos. 

“Ainda que os resultados de curto prazo possam ser um pouco incertos e voláteis, o anúncio de hoje significa que a Natura deixa de ser uma aposta arriscada e dependente de eventos, passando a ser uma tese baseada em fundamentos,” escreveu Pedro Pinto, no Bradesco BBI.

A Natura disse que espera que a transação seja concluída no primeiro tri do ano que vem. 

Até lá, a companhia vai continuar operando os ativos, mas a expectativa é que não haja necessidade de injeção de capital no período, já que historicamente a Avon International gera caixa no segundo semestre, dada a sazonalidade do setor. 

Com a alta de hoje, a Natura vale R$ 14,19 bilhões na Bolsa. A companhia negocia a cerca de 8,4x seu lucro estimado para o ano que vem.