A Nasdaq acaba de fazer a maior aquisição de sua história, pagando US$ 10,5 bilhões pela Adenza, uma companhia que fornece softwares para bancos e corretoras.
No Brasil, seria o equivalente à B3 comprar a Sinqia.
A aquisição — uma forma da Nasdaq diversificar seu negócio para além da Bolsa de Valores — foi mal recebida pelo mercado, que enxergou o movimento como uma aposta cara e com alto risco de integração.
A transação avaliou a Adenza em 18x sua receita, que deve atingir US$ 600 milhões este ano, e em 31x o EBITDA estimado para 2023. Para efeito de comparação: a média do múltiplo das empresas de tech do SP&500 é de 17x EBITDA.
A ação da Nasdaq despencou cerca de 12% hoje com a notícia.
A Nasdaq vai pagar metade do valor em dinheiro (US$ 5,75 bi) e o restante em ações.
Após a transação, a Thoma Bravo, a gestora de private equity que era dona da Adenza, terá 14,9% da Nasdaq, tornando-se um dos maiores acionistas da companhia. Um sócio da gestora também passará a ocupar um assento no board da companhia.
Para fazer frente à parcela em cash, a Nasdaq terá que emitir dívida. A companhia disse que pretende levantar US$ 5,9 bilhões, o que deve levar sua alavancagem para 4,7x EBITDA.
A empresa disse que planeja reduzir essa alavancagem para 4x ao longo dos próximos 18 meses.
A transação faz parte da estratégia da CEO Adena Friedman de transformar a Nasdaq de um operador de marketplace — cuja receita flutua de acordo com os volumes de trading — em uma empresa de tecnologia com receitas mais recorrentes.
Desde que assumiu a companhia, em 2017, Friedman fez outra transação com esse mesmo objetivo: a compra da Verafin, uma companhia que fornece um software de prevenção a fraudes e crimes financeiros.
A Nasdaq pagou US$ 2,75 bilhões por essa empresa em 2020.
Uma das sinergias da compra da Adenza será justamente com a Verafin, já que a Nasdaq poderá fazer o cross selling do produto da Verafin para a base de clientes da Adenza.
Fruto da fusão de duas plataformas líderes de mercado, a Adenza oferece softwares que ajudam bancos e corretoras a gerir suas negociações, o risco do portfólio e a fazer o processamento pós-trading nos mercados de moedas, renda fixa e derivativos. A tecnologia também facilita o processo de reportar dados aos reguladores.
A Nasdaq justificou o valuation alto dizendo que a Adenza tem margens de lucro muito saudáveis, que devem contribuir positivamente para sua margem consolidada, bem como o potencial de tornar a Nasdaq um provedor de tecnologia “indispensável” para os grandes bancos.
“Desde a implementação do Dodd-Frank em 2010, os bancos aumentaram seus custos com compliance em mais de US$ 50 bilhões por ano. Com a Adenza, teremos uma gama mais completa de softwares e soluções que tornam a gestão do risco e a adequação às regulações mais simples e eficiente,” disse Tal Cohen, o presidente de market platforms da Nasdaq, num comunicado.
Com a transação, o negócio de soluções tecnológicas da Nasdaq passa a responder por 77% da receita da companhia este ano, em comparação aos 71% de hoje, disse a empresa. O restante vem do trading da Bolsa.
Para reduzir o impacto diluitivo da transação, a Nasdaq disse que planeja recomprar ações ao longo do tempo. Segundo a empresa, a aquisição da Adenza deve começar a ter um impacto positivo no lucro por ação da companhia depois de dois anos.