Ninguém é só uma estatística, mas dentre as milhares de vítimas da pandemia de COVID19, haverá aquelas que presenteavam a sociedade com qualidades especiais e cuja ausência deixará a arte menos colorida e a cultura, mais pobre.
Naomi Munakata nasceu em Hiroshima e veio para o Brasil com dois anos. Seu ambiente familiar teve importância vital na sua formação e escolha pela música. Desde muito jovem cantava no coro do pai. De formação muito sólida, chegou a estudar com professores importantes, como Hans-Joachim Koellreutter, Roberto Schnorrenberg e Eric Ericsson. Também esteve na Universidade de Tóquio.
Como maestrina, era perceptível o nível de detalhe e riqueza sonora de suas interpretações; não à toa, John Neschling a escolheu para estar à frente do Coro da OSESP e ajudá-lo na sua reestruturação.
Foram 20 anos como maestrina desta que se tornou a principal instituição coral do país — um patamar alçado principalmente graças a sua liderança e competência. Seu trabalho de resgate e execução de obras do repertório brasileiro também foi de extrema importância. Atualmente estava como maestrina principal do Coro Paulistano Mário de Andrade, um dos órgãos estáveis do Theatro Municipal de São Paulo.
Como educadora, Munakata foi diretora da Escola Municipal de Música e criadora do Coro Infantil e Coro Juvenil da OSESP, que faz um trabalho incrível de iniciação musical para jovens. Muitos jovens promissores que seguem nos coros profissionais e até mesmo como instrumentistas ou regentes têm seu primeiro contato musical sólido nesses coros.
Algo que aproximou muito Naomi dos espectadores em geral foi o seu programa “Vozes”, na Rádio Cultura FM de São Paulo, apresentando e comentando uma vasta seleção do repertório coral.
Munakata foi uma regente de obstinação oriental que construiu um novo patamar para a cultura coral no Brasil e jamais vai ser esquecida, tanto pela qualidade de seu legado como pelas admiração de seus colegas de trabalho, que já sentem saudade da pessoa mais simpática e acolhedora com quem podiam contar.