Zog chegou para mim em 17 de novembro de 2020, à tarde. Tinha 55 dias. Trouxe muito afeto e tranquilidade num ano que a pandemia marcou com tristeza.
Eu só não sabia que aquele shitzu megafofo ia comer todo o meu salário.
Não é à toa que a Petz vale R$ 8 bi na Bolsa e investidores estão injetando bilhões neste mercado.
Um mês antes de Zog se juntar à família, comecei a comprar o enxoval: tapetes higiênicos, ração, caminha, escova de pelos, brinquedos, bebedouro, potinho de comida, xampu, lenços umedecidos, peitoral e guia, escova e pasta de dente, portãozinho para impedir que ele viesse para a cozinha, e um monte de outras coisas que nem lembro agora.
Descobri zilhões de produtos que não tinha a menor ideia que existiam – muito menos os preços. Uau!
A primeira compra numa dessas lojas enormes de artigos para pets deu quase R$ 900! E isso num período horrível, de pouca demanda de trabalho para freelancers como eu. Com a pandemia correndo solta e a economia detonada, só havia jobs curtos e de remuneração baixa, sem falar no baixo astral das pessoas.
O primeiro choque foi no bolso. O segundo (maior ainda) foi subir as escadas com aquela coisinha que pesava 1 kg e a partir daquele momento dependia inteiramente de mim.
Fui orientada a chamar um veterinário para “dar uma geral” e aplicar as primeiras vacinas. Pedi indicações e optei por uma moça muito competente: R$ 230 a consulta. Ela veio, disse que o bichinho estava ótimo, e marcamos a sequência das vacinas.
Com seis meses, quatro dos quais comigo, Zog já representava um gasto fixo de uns R$ 400 por mês: tem o banho quinzenal, a tosa higiênica e a tosa de pelo normal…
Tem saco de ração de 2,5 kg que dura cinco ou seis semanas. Tem o pacote de tapete higiênico que rende um mês mais ou menos. Tem vacinas, remédio antipulga e vermífugo. Ah, muito importante: petiscos e brinquedos. Porque se ele não ficar de boa, se distraindo com objetos novos, ou não for subornado com biscoitinhos ou palitinhos sabor porco – como a mãe não respeita esse negócio de comida kosher, ele também anda no mau exemplo – não consigo trabalhar: ele late e me arranha chamando para brincar.
Essa lista aí de cima é o normal. Quando rolam imprevistos, os custos para cuidar do bichinho disparam. É horrível falar assim, parece que estou sendo muquirana uma relação que deveria ser só de afeto mútuo, mas é a real.
Outro dia ele teve um problema sério no olho. Apavorada, chamei uma oftalmologista de cachorro. Consulta: R$ 280. Colírio para o tratamento: R$ 85. Colírio de uso contínuo para evitar que o problema volte: R$ 65 (dura 50 dias mais ou menos cada vidrinho.) Melhor fazer um hedge e comprar ações da Petz.
Nesse mês da doença ocular, meu cachorro também teve que tomar uma dose regular de uma determinada vacina. Fiquei no vermelho geral: o Zog comeu, literal e metaforicamente, tudo o que ganhei.
Agora o Zog tem um ano e dois meses. É um adolescente tarado: precisa cruzar ou ser castrado. Apaixonou-se biblicamente pela minha perna, e insiste em roçá-la voluptuosamente enquanto estou trabalhando, concentrada num texto. Ele acha que vai fazer um filhote com meu joelho. Coitado.
Embora eu morra de pena e goste da ideia de ter um filhotinho, não dá. A ideia de cruzar está fora de cogitação. É difícil achar alguém com uma fêmea que tope a empreitada. E ter dois cãezinhos me levaria à falência. Daí que já marquei a castração; mais de R$ 1 mil, sem contar eventuais medicamentos e roupa pós-cirurgia.
Acho que ele já sacou o que vai acontecer – anda dengoso, carente de atenção. Ou vai ver que estou imaginando coisas porque me sinto culpada. Pior que só tem um jeito de expiar essa culpa: entrar no site de uma dessas redes e comprar brinquedos novos. Ser mãe é padecer no Serasa.
Simone Goldberg escreve para sustentar seu cahorro.