Ele já chamou as comissárias da American Airlines de “vovozinhas” e, até recentemente, as que trabalham em sua companhia tinham que pedir permissão para se casar – e eram automaticamente demitidas quando engravidavam.
Mas o estoque de gafes de Akbar Al Baker, o controverso e todo-poderoso CEO da Qatar Airways, parece não ter fim.
Ontem, ao ser empossado como chairman da IATA (International Air Transport Association), cargo que ocupará por um ano, Al Baker declarou que nenhuma mulher está à altura de seu cargo na Qatar. “É óbvio que a companhia precisa ser liderada por um homem: é uma posição muito desafiadora,” afirmou, demonstrando a sensibilidade de um camelo.
A declaração foi feita a jornalistas que o questionavam sobre a baixa representação de mulheres nas companhias do Oriente Médio. Mais tarde, Al Baker soltou uma nota pedindo desculpas, mas aproveitou para jogar a culpa na “mídia sensacionalista”.
À frente da Qatar Airways desde 1997, Al Baker transformou uma pequena companhia de um dos menores países do mundo em uma potência global de aviação. Mas também fez carreira como o mais “falastrão” dos presidentes das três grandes aéreas do Oriente Médio: Emirates, Etihad, e a própria Qatar.
Numa época em que até a Arábia Saudita já liberou as mulheres para dirigir – elas começam a pegar no volante daqui a duas semanas – e em que o mundo discute políticas para igualdade de gênero no trabalho, Al Baker vai precisar de muito ‘media training’ para liderar uma entidade que representa os interesses de uma indústria de enorme visibilidade.
Talvez por linhas tortas, as declarações de Al Baker acabaram atraindo luz para o fato de que existem poucas líderes femininas na aviação comercial.
No mundo, apenas 3% das companhias aéreas são lideradas por mulheres, segundo a IATA, que representa 290 companhias e 82% do tráfego aéreo global. É menos do que a média de outras indústrias: 12%. A maior parte das mulheres em cargos executivos está nos EUA. A menor representação – adivinha? – é no Oriente Médio.
O próprio board da IATA, sob a presidência de Al Baker, parece um boys’ club. Dos 26 conselheiros CEOs de companhias aéreas empossados esta semana durante o encontro anual da IATA, só há uma mulher: Christine Ourmières-Widener, a CEO da Flybe, uma pequena regional britânica.