A Marcopolo está conseguindo atravessar a crise e deve emergir ainda mais forte quando o mercado de ônibus sair da garagem.
Só não se sabe quando isto vai acontecer, ainda mais sem o financiamento do BNDES aos clientes e as compras do Governo federal, que ajudaram a empresa nos últimos anos.
No segundo trimestre, o volume de ônibus vendidos pela Marcopolo ainda foi 25% menor que no mesmo período do ano passado, mas sua geração de caixa caiu apenas 6%.
A distância entre as duas métricas mostra que o time de Caxias do Sul está conseguindo melhorar dramaticamente a margem num momento em que o mercado ainda está na lona, posicionando a companhia para uma rentabilidade ainda maior quando os clientes voltarem a fazer encomendas.
Quando emergir da crise, tudo indica que a Marcopolo será uma empresa mais eficiente e maior: o market share no segmento rodoviário, onde a Marcopolo tem as maiores margens, subiu de 53,5% há um ano para 62% no último trimestre — sem contar a compra da concorrente Neobus, que tem cerca de 10% do mercado de ônibus urbanos e rodoviários, os dois segmentos em que a Marcopolo atua.
“Quando o mercado voltar, a Marcopolo se beneficiará duplamente: pela margem e pela escala maiores,” diz um gestor que tem ações da empresa.
A compra da Neobus, uma concorrente que havia sido fundada por alguns de seus ex-executivos, foi concluída no início deste mês.
A Marcopolo pagou R$41 milhões em ações e assumiu R$254 milhões em dívidas, o que fez seu endividamento quase dobrar para 3,7x sua geração de caixa.
Mas se quiser reduzir esta dívida, a empresa tem uma carta — aliás, um ás de copas — na mão.
No início de 2013, a Marcopolo fez um investimento estratégico na New Flyer Industries, uma fabricante de ônibus canadense que estava comprando uma concorrente nos EUA e precisava de financiamento. A Marcopolo fez um aumento de capital na New Flyer, comprando 11 milhões de ações a C$10,50 (dólares canadenses) cada. Com o investimento total de C$116 milhões, ficou com 19,99% da empresa.
As coisas deram mais certo do que a própria Marcopolo esperava, e o valor da empresa se multiplicou por quatro, fazendo com que a participação represente hoje cerca de 37% do valor de mercado da Marcopolo.
Ou seja, do valor de R$3,51 da ação da Marcopolo, a New Flyer representa R$1,23, e as atividades da Marcopolo propriamente ditas (fábricas no Brasil e no exterior e o banco Moneo) valem somente R$2,28 por ação.
“Se vender a participação na New Flyer, que vale R$1,1 bilhão, a Marcopolo em tese poderia zerar sua dívida líquida de R$500 milhões e ainda sobraria para pagar um dividendo de 20% sobre o valor atual da empresa,” diz outro gestor.
Além de consolidar sua liderança no mercado doméstico, a Marcopolo está saindo da crise em grande parte turbinando suas exportações. Seu volume exportado subiu 63% no segundo trimestre, e a receita, 78% (ajudada pelo câmbio mais desvalorizado).
Ainda que a Marcopolo esteja fazendo o dever de casa, muitos de seus mercados continuam a remar contra.
No Brasil, o segmento de ônibus rodoviários encolheu 30% no primeiro semestre, e o de urbanos, 23%. No início do ano, a Marcopolo paralisou a Ciferal — sua linha de ônibus urbanos — depois que os concorrentes engajaram em preços irracionais. Mercados internacionais também dão dor de cabeça: no segundo trimestre, a Austrália caiu 20% e o México, 42%.
“De fato a empresa está numa posição de liderança incontestável,” diz outro gestor. “A gente só não sabe o tamanho que o mercado de ônibus terá nos próximos anos.”