Não é de hoje que a Lojas Americanas vem testando a paciência dos investidores.

No resultado do quarto trimestre, publicado ontem à noite, voltou a decepcionar. As ações abriram em queda de 5% e por volta do meio-dia, caíam 7%.

O Itaú BBA rebaixou as ações de  ‘compra’ para ‘neutro’.

“A LASA vem um tempo sem entregar resultado bom”, resume o analista de uma gestora que ainda carrega uma pequena posição no papel. “A verdade é que os investidores que ainda têm estão de saco cheio.”

A boa notícia do balanço: as vendas no conceito ‘mesmas lojas’ subiram 7,3% e a receita avançou 10,2%, impulsionada pela abertura de novas lojas. A má: a margem bruta e a margem EBITDA caíram 0,9 e 1 ponto percentual, respectivamente. Trocando em miúdos: a companhia está trocando margem por crescimento – um movimento que já vem acontecendo desde meados de 2017.

Em fevereiro, a direção da LASA já havia sinalizado que a margem ficaria abaixo do esperado, e as ações incorporaram este guidance. Ao que parece, não foi suficiente.

Há ainda um efeito que ninguém consegue entender. Mesmo com a queda da taxa Selic, as despesas financeiras vem aumentando, mesmo sem um aumento relevante no endividamento. “Todo o trimestre essa companhia consegue decepcionar o mercado no resultado financeiro”, diz o analista. “Tem essa rubrica de ‘outras despesas financeiras’, que ninguém entende bem o que é.”

Apesar da margem bruta ter caído, o ciclo de capital de giro melhorou apenas marginalmente (um dia). Funciona assim: normalmente, os varejistas adiantam capital para os fornecedores em troca de descontos maiores. Foi o que aconteceu ao longo de 2016: o capital de giro piorou, mas a margem bruta subiu. Quando a margem diminui, espera-se que o capital de giro vá na direção oposta. Não foi o que aconteceu desta vez.  A discrepância mostra que, no fim do ano passado, pode ter havido mais atividade promocional.

“Esse resultado tem que ser olhado num contexto maior, porque a empresa abriu muitas lojas no quarto trimestre, o que pressiona as margens e suja o capital de giro”, diz um gestor mais bullish com o papel.

A Lojas Americanas vem com uma expansão agressiva, parte de um plano lançado em 2014 de abrir 800 lojas em cinco anos. No ano passado, inaugurou 196 lojas.

Nos dois últimos anos, o negócio brick and mortar das Lojas Americanas passando por uma queda brutal de valor.  Enquanto a B2W (ecommerce) se valorizou, a LASA ficou para trás.

Descontando da LAME o valor de sua participação de 62% na B2W, o negócio de varejo físico vale hoje R$ 15 bilhões.

Nas contas de um analista, é o mesmo patamar de cinco anos atrás.