Harvard e Yale têm uma rivalidade centenária, que vai das salas de aula às quadras de futebol universitário.
 
Mas quando o critério é o desempenho financeiro, não há comparação: Yale ganha de 7 a 1, e Harvard fica de recuperação.
 
No ano fiscal de 2016, encerrado em junho, o endowment de Harvard (o maior do mundo) teve retorno negativo de 2%, com uma perda de US$ 1,9 bilhão, seu pior resultado desde o auge da crise financeira em 2009.  E, considerando o dinheiro sacado para custear o orçamento da universidade, os ativos caíram 5% no último exercício, para US$ 35,7 bilhões.
 
A perda mais recente ficou bem atrás do desempenho esperado: o benchmark definido pela própria instituição, com base no que seria uma alocação ótima de ativos, teve alta de 1%. Pior: se tivesse aposentado seus gestores e colocado todo o dinheiro numa grande cesta formada por 60% de ações e 40% de títulos de renda fixa no mercado americano, a Harvard Management Company teria tido um retorno de 5%.
 
Yale também teve seu pior desempenho desde 2009. Mas, nesse caso, a barra é mais alta – e o pior é bem melhor. No ano fiscal de 2016, os investimentos da instituição renderam 3,4%. Com um crescimento de 5% dos gastos para a universidade, os ativos caíram 1% para US$ 25,4 bilhões. 
 
Em meio ao ambiente de juros baixos nos Estados Unidos e o sobe-e-desce nos mercados internacionais, o ano não foi fácil para os endowments em geral. Mas, entre as grandes, Harvard está na lanterna. No MIT, houve ganho de 0,8%; enquanto a Universidade da Pensilvânia e Dartmouth College perderam 1,4% e 1,9%, respectivamente.
  
O pior tombo no portfólio veio da carteira de ações, que caiu 10,2% (contra um benchmark de -6,1%). 

Harvard é um dos poucos endowments a fazer sua alocação de ativos principalmente com gestores próprios, e já havia anunciado que vai mudar de estratégia e apostar mais em gestores externos.
  
O endowment de Harvard já foi administrado pelo lendário Jack Meyer, que transformou US$ 4,7 bi em 1991 em US$ 22,6 bi em 2005.  Mas, ao mesmo tempo em que surrava os benchmarks, Meyer pagava bônus generosos a seu time – generosos demais, na visão de alguns ex-alunos e grandes doadores. Pressionada, Harvard mudou a forma de remuneração e trocou os gestores. Sua performance nunca mais foi a mesma.
 
Desde a saída de Meyer, a HMC já teve três presidentes e não consegue mostrar resultados consistentes. O último, Stephen Blyth, renunciou em julho por problemas de saúde depois de um ano e meio no cargo, e um substituto definitivo ainda não foi anunciado.
 
Já em Yale, a lenda segue no manche. David Swensen — o papa dos endowments, cujos ensinamentos que são seguidos por todo o mundo de ‘value investing’ — está à frente dos investimentos desde 1985.
 
É de Swensen a concepção inovadora de que liquidez é um ativo muito caro para fundos com uma abordagem de longuíssimo prazo, e que investimentos pouco líquidos (como private equity) podem gerar retornos mais consistentes.
 
Swensen também foi o primeiro a pregar uma diversificação para além de ações e títulos de dívida, e o primeiro a delegar a maior parte dos ativos a gestores externos, obviamente escolhidos a dedo.
 
Mas após anos de retornos acima do benchmark, a ‘cartilha Swensen’ foi questionada:  os endowments foram à lona em 2009, principalmente pela dificuldade de mudar suas carteiras pouco líquidas.
 
Na época, Yale fez uma pequena correção de rota e limitou os investimentos ilíquidos a ‘apenas’ 50% da carteira. Swensen pediu calma aos investidores e disse que mirava o longo prazo.
 
Os números se provaram a seu favor: nos últimos dez anos, incluído o tombo da crise global, Yale conseguiu um retorno anual médio de 8,1% — batendo a carteira passiva de 60% em ações e 40% em dívida. Harvard continua bem atrás, com rendimento de 5,7% ao ano.
 
Olhando os últimos 20 anos, os resultados são ainda mais impressionantes: Swensen entregou um retorno médio anual de 12,6%, comparado com uma média de 7,5% dos outros endowments de universidades.