Nicolás Maduro está enfurecido com a falta de catchup na Venezuela — tanto que está ameaçando prender executivos da Heinz nesta quarta-feira se forem encontrados sinais de ‘sabotagem’ na subsidiária da empresa no país.Nicolás Maduro

A ordem foi dada durante o programa ‘Contacto con Maduro’ ontem à noite, e a ‘sabotagem’ a que o ditador se refere é a falta de produtos básicos nos supermercados venezuelanos. Com a economia do país em desintegração e a dificuldade em conseguir dólares para importar insumos, muitas empresas não conseguem produzir o suficiente para atender a demanda, causando desabastecimento generalizado.

“Aí está a empresa Heinz. Não sei de quem é. Amanhã vão lá bem cedo e vão checar o que está acontecendo na empresa Heinz. E se os gerentes estiverem sabotando, aqui está o chefe do Sebin [serviço de inteligência] que os colocará na cadeia imediatamente. E já basta desta burguesia,” disse Maduro, a cinco dias das eleições parlamentares venezuelanas, que acontecem domingo. A Heinz, que Maduro finge não conhecer, é controlada por Warren Buffett e pelos brasileiros da 3G Capital.

E continuou: “Colocam [os gerentes] na cadeia. Levam ao Ministério Público. A todos os gerentes desta empresa. Eu acredito na classe trabalhadora e sei que estes trabalhadores estão dizendo a verdade. Ah, mas aí alguém se reúne com um mandachuva dessa empresa ou de qualquer outra e logo começam: ‘Não… porque tem isso e aquilo… e não me deram os dólares..’ Começam com essa coisa. Não! Acabou o seu tempo, burgueses, parasitas. O povo está mandando um recado muito claro, e eu recebo este recado no meu coração!”

Warren BuffettEm junho deste ano, um sindicalista de uma fábrica da Heinz em San Joaquin, no Estado de Carabobo (sic), disse aos jornais venezuelanos que havia algo estranho, porque apesar da fábrica estar trabalhando em turno integral, os produtos da Heinz continuavam em falta nos supermercados.

“Nós produzimos, armazenamos e despachamos, infelizmente não distribuímos. Fazemos aqui um apelo ao Governo Nacional para que investigue onde está o catchup e as compotas, porque nós produzimos a 100% da capacidade e não vemos estes produtos nas prateleiras,” disse o secretário-geral do sindicato de trabalhadores da Heinz, Javier Breto. A ‘denúncia’ foi feita, em frente à fábrica, durante a negociação de um acordo coletivo. Chantagem via imprensa? Imagine.

A Heinz está longe de ser a primeira empresa a sofrer coação de Maduro, que já interveio em fábricas de papel higiênico depois que essa commodity estratégica faltou na República Bolivariana. Tampouco será a última. O show de populismo paranóico-vitimizante (pura cortina de fumaça) só vai parar quando os eleitores venezuelanos estiverem de barriga vazia e de saco cheio.

Enquanto no Brasil gente culpada aguarda o japonês da PF, na Venezuela, gente inocente espera a visita do Governo.