No mercado de juros e câmbio, Alfredo Menezes fez história. 

10914 09e46bba 1acb b1fe c8b9 8732b8d29d81Depois de 15 anos no BCN, passou outros 15 à frente da tesouraria do Bradesco, onde ganhou fama de trader agressivo operando lotes cavalares de DI e dólar.

“O Alfredo consegue ler o mercado e perceber os movimentos como ninguém,” diz João César Tourinho, seu amigo e concorrente quando chefiava a tesouraria do Safra. “Hoje em dia, as pessoas acham que um bom algoritmo faz tudo, mas ter alguém que opera há décadas e sabe gerenciar risco em grande volume é um diferencial e tanto.”

Agora, Alfredo terá que provar que dentro de um bom tesoureiro se esconde também um bom gestor.

Depois de passar os últimos quatro anos operando seu próprio dinheiro e o de amigos num family office, ele acaba de fundar a Armor Capital. 

A gestora — que nasceu com R$ 190 milhões divididos em dois fundos multimercados e um de previdência privada — vai começar a captar com investidores institucionais e family offices semana que vem. Em breve, deve entrar também nas plataformas de investimento. 


10915 e40c9e53 1231 1a30 413a 7608bd0bc920Uma das características da Armor é a volatilidade de seus multimercados, bem acima da média da indústria. O fundo flagship Axe — “um tarja preta” nas palavras do co-fundador Pedro Meirelles — tem um target de vol de até 20%. Para efeito de comparação, o Verde tem vol de 4%, e a indústria, no geral, entre 3% e 4%. 

O outro fundo, o Shield, também não é defensivo apesar do nome. O target de vol é entre 6% e 8%.


A Armor está abrindo as portas em meio a um banho de sangue nos mercados, que despencaram nos últimos dias com o agravamento do impacto do coronavírus. Na quarta-feira de cinzas, já eternizado como o Corona Day, as cotas caíram 1,5% e 0,8%, sugerindo que os fundos carregavam um apetite a risco bem menor que a meta de vol declarada.

Desde que rodou sua ‘cota zero’ em outubro, o Axe retornou 17,7%, ou 1.100% do CDI, enquanto o Shield rendeu 6,88% desde julho — ou 288% do benchmark

Ambos os fundos são compostos por três portfólios: um que engloba as carteiras individuais dos traders; um book direcional com apostas mais de longo prazo e definidas em conjunto; e um de bonds, com os investimentos em títulos privados. 

A Armor tenta encontrar arbitragens naqueles cantos opacos do mercado. Recentemente, ganhou dinheiro comprando bonds da YPF, a petroleira argentina. Com a derrota de Macri, o mercado bateu no papel, mas Alfredo comprou o título apostando que não haveria default. Em 30 dias, o papel fechou a taxa em 20%. 

Outra operação bem-sucedida foi a compra de bonds perpétuos do Banco Votorantim com vencimento em 2022. Alfredo apostou que o título estava mal precificado por ser um papel subordinado.

“Como esses papéis foram emitidos quando o Risco Brasil estava lá em cima, as repactuações são todas com Treasury mais 500, 600, 700 [pontos-base], o que é uma realidade de risco completamente diferente do Brasil de hoje,” diz Alfredo. “O que eu sabia é que um papel que vence em 2022 de emissão do Votorantim, se não fosse subordinado, não ia estar a 6,5%. Estaria a 3% ou 4% no máximo.” (Em dois meses, o yield caiu para menos de 5%).

Os quatro sócios da Armor dividem o risco da carteira. Alfredo tem o maior percentual, seguido por Pedro, que trabalhou com Alfredo no Bradesco antes de se tornar diretor do Standard Chartered. Os outros sócios são Felipe Menezes, filho de Alfredo, e André Chang. 

O desempenho dos traders vai ser analisado semestralmente para recalibrar os limites de cada um. 

Sobre o que é necessário para ser um bom trader, Alfredo tem uma receita que lembra o Tio Ricco. 

“Tem uma frase — acho que é bíblica que diz que a soberba precede a ruína. No mercado é assim: não existe super homem, e todo cara que acha que é super homem, a porrada vem de frente,” diz ele. “Ter um ego grande só atrapalha seu networking, porque ninguém gosta de pessoas orgulhosas, vaidosas e metidas.”