Ao longo de 22 anos, Carlos Simas ajudou a construir uma das gestoras mais respeitadas do Brasil.
Agora, o ex-sócio da Dynamo está usando a experiência acumulada para construir uma nova casa de ações, a 3 Ilhas, também focada em análise fundamentalista, horizonte de longo prazo e empresas de qualidade.
A 3 Ilhas começou a rodar em junho – depois de um período em que Simas passou administrando seu patrimônio pessoal – e já tem cerca de R$ 300 milhões sob gestão. A captação está sendo feita basicamente com family offices e investidores institucionais. Plataformas? Nem pensar.
Simas disse ao Brazil Journal que a ideia é não ultrapassar R$ 2 bilhões de AUM, até porque o tamanho do fundo será o principal diferencial em relação à Dynamo.
“Ter um pool de recursos de qualidade e com um tamanho limitado aumenta sua chance de ter retornos especiais,” disse Simas. “Conseguimos capturar oportunidades que um gestor de R$ 10 bilhões ou R$ 20 bilhões não consegue.”
Com R$ 2 bi de AUM, e dadas as atuais condições de mercado, Simas estima que a gestora teria um universo de 150 empresas investíveis, levando em conta as restrições de liquidez e de free float.
Nos últimos anos, as gestoras com mais de R$ 10 bilhões em ativos se multiplicaram, “mas o tamanho do mercado não mudou. O número de empresas é quase o mesmo, e isso gera um engarrafamento,” disse, em referência a um mercado em que frequentemente as maiores gestoras estão compradas nos mesmos papéis.
Outro mantra da 3 Ilhas será manter o que Simas chama de “uma distância saudável do mercado.”
“Precisamos ter muito cuidado para não ficar muito focados nas narrativas – e tudo se torna uma narrativa hoje,” disse ele. “Precisamos conseguir sentar e olhar os detalhes com atenção, ler os documentos, conversar com calma com as empresas e os empresários. Coisas muito básicas que muita gente não faz.”
Além do básico que todo investidor de valor busca – um bom negócio, gerido por boas pessoas e no preço certo – Simas disse que a 3 Ilhas está atrás de “empresas ambidestras,” aquelas que “são boas no que fazem, têm o domínio no negócio, mas que ao mesmo tempo são ótimas alocadoras de capital.”
Segundo ele, os retornos excepcionais acontecem “quando essas características se combinam e se alinham com o interesse do investidor.”
No passado, um exemplo de companhia “ambidestra” foi a Ultrapar, que tinha uma operação redonda e fazia bons investimentos, como foi a compra da Ipiranga. “Mas eles perderam a mão em algum momento e agora estão tentando voltar para o jogo,” disse Simas.
Outra companhia que já foi ambidestra foi a Ambev, apoiada no binômio de excelência operacional e alocação de capital. Mas depois de atingir massa crítica em seu market share, as possibilidades de M&A praticamente acabaram, e o mercado de cerveja mudou. Hoje, o desafio da companhia é manter sua excelência operacional com inovação – onde ela ainda está tentando se provar.
Para Simas, a beleza de um fundo menor é poder capturar essas companhias ‘ambidestras’ no início, quando seu market cap não permite que os grandes fundos montem posição. “O poder de multiplicação de uma empresa que está no início dessa fase é muito maior,” disse ele.
Simas passou praticamente toda sua carreira na Dynamo, onde entrou em 2000 depois de alguns anos no Icatu. No banco dos Almeida Braga, entrou como estagiário em 1991 e em apenas três anos foi promovido a sócio, responsável por toda a área de análise de empresas.
Na Dynamo, ficou 10 anos no escritório de Londres, para onde foi em 2009, pouco depois de Bruno Rocha abrir a Dynamo UK.
Trabalhar lá “impactou minha vida em vários aspectos. Como investidor é muito diferente estar num mercado em que você não é nada. Éramos um ponto. O que tínhamos de mais interessante era sermos estranhos… uns brasileiros investindo no Reino Unido.”
Simas disse que a decisão de deixar a Dynamo teve a ver com várias questões, mas que decidir sair foi extremamente difícil. “Na Dynamo, você faz meio que um voto de amor eterno, e romper esse voto é muito difícil. Mas eu estava com muita vontade de desenvolver uma coisa minha, com mais independência e com gente nova,” disse Simas.
“O Fernando Pires [um ex-colega na antiga casa] diz que investir tem ‘depreciação negativa’, porque com o tempo você vai acumulando conhecimento e melhorando. Mas volta e meia eu duvido dele. Porque é natural que a gente perca um pouco da memória e o mundo está andando muito rápido, então eu acho bom ter gente nova, com novos olhares.”
Segundo ele, o nome 3 Ilhas foi fruto da dificuldade “de achar um nome inteligente” – e faz referência a três ilhas que ficam dentro de um rio, e não no mar.
“As pessoas escutam ‘3 Ilhas’ e já imaginam 3 ilhas no mar. Então, a mensagem aqui é que você não deve acreditar sempre no que imagina, nas narrativas.”