Gabriel Haddad Silva passou quase cinco anos como CFO do Nubank, de onde saiu em julho de 2020.
Assim que deixou a fintech, a primeira coisa que ele fez foi ir numa banca de jornal perto de casa e comprar tudo que encontrou de revistas especializadas em mudança climática.
“Passei quase um ano lendo tudo que eu encontrava sobre o assunto,” Gabriel disse ao Brazil Journal. “Eu queria criar algo próprio e com impacto, que gerasse algo positivo para a sociedade.”
Dessa imersão nasceu a Mombak, uma startup que quer atacar o problema da mudança climática reflorestando áreas degradadas e gerando créditos de carbono com isso.
Gabriel fundou a startup com Peter Fernandez, o ex-CEO da 99, que acabara de fazer um sabático de dois anos em que visitou países da África e um mosteiro budista na França.
Diferente da maioria das plataformas de crédito de carbono, a Mombak já nasce verticalizada: ela vai originar os créditos de carbono com seus projetos de reflorestamento e depois vender os créditos diretamente a empresas que querem compensar suas emissões.
Gabriel explica que o reflorestamento é hoje a principal ferramenta de captura de carbono da atmosfera, já que as árvores acumulam biomassa acima e abaixo do solo; 50% da biomassa é carbono.
“Basicamente, você está pegando carbono da atmosfera, transformando em biomassa e estocando esse carbono dentro da floresta,” disse Gabriel.
Ao redor do mundo, há iniciativas mais ‘tech’ para retirar carbono da atmosfera, como a Climate Works, uma investida de Bill Gates. A Climate Works constrói grandes parques industriais que vão literalmente sugar o ar, separar as moléculas, pegar o carbono e injetá-lo bem fundo no solo, onde ele ficará armazenado. (Essa captura de carbono é tida como mais segura. Afinal, se houver um incêndio numa floresta, todo o carbono que havia sido capturado volta direto para a atmosfera).
“Mas o custo desse modelo ainda é extremamente alto e o reflorestamento traz outras externalidades positivas, como aumentar a biodiversidade do mundo,” disse o fundador.
Para financiar sua visão, a Mombak fez uma rodada no ano passado com três fundos de venture capital: a Kaszek Ventures e os americanos USV e Byers.
Agora, ela está prestes a iniciar uma nova captação para financiar especificamente a compra dos terrenos onde será feito o reflorestamento.
A ideia é começar na Amazônia, em pastos degradados de áreas privadas que tenham potencial para regeneração. A Mombak planeja usar 60 espécies nativas para fazer o reflorestamento e transformar essas terras em áreas de preservação permanente.
A verticalização da startup vai além da terra. A Mombak planeja ter seu próprio viveiro, onde vai criar essas 60 espécies de vegetação e árvores nativas. (Parece algo simples, mas um viveiro dessa magnitude demanda um investimento de cerca de R$ 30 milhões.)
Para medir quantos créditos de carbono estão sendo gerados, a startup vai fazer medições periódicas da biomassa acumulada nas florestas.
Apesar de ainda não ter começado a gerar os créditos, a Mombak já tem conversado com empresas interessadas em assinar contratos de longo prazo. Segundo Gabriel, a startup já tem quatro MOUs assinados com grandes companhias para contratos de 10 anos de compra de créditos.
A Mombak está se posicionando num mercado que deve ver um salto de demanda nos próximos anos. A estimativa é que em 2050 o mundo precise compensar 10 bilhões de toneladas de carbono todos os anos.
“Essa demanda está dada, porque várias empresas já anunciaram metas de descarbonização. O problema é como achar esse crédito. A maioria das inovações que estão surgindo se posicionam como intermediários, como brokers, mas isso não resolve o problema da oferta, que é o grande gargalo.”