Mohamed El-Erian — que já foi o CEO da PIMCO e liderou o endowment de Harvard — acredita que há mais “incertezas do que certezas” quando se trata do coronavírus e que, por isso, a queda brutal das ações nos últimos dias não é uma oportunidade de compra.
Num artigo publicado na Bloomberg, Mohamed disse que a disseminação do vírus por diversos países (particularmente Itália, Irã e Coréia do Sul) torna ainda mais difícil ignorar os danos consideráveis que ele está causando às condições de oferta e demanda dos mercados.
Mohamed disse ainda que há incerteza em relação à capacidade de algumas empresas chinesas de se manterem solventes. Uma pesquisa divulgada há três dias mostra que dois terços das empresas médias e pequenas da China só tem financiamento por dois meses a contar do início da paralisação.
Hoje pela manhã, Mohamed havia defendido a mesma tese numa entrevista à CNBC. Na ocasião, disse que interrupções nos lucros das empresas e no crescimento da economia causadas por eventos de “choque” — como é o caso do coronavírus — tendem a permanecer por muito mais tempo do que crises mais fundamentais.
“Só porque comprar as quedas de mercado (buy the dip) funcionou no passado, isso não significa que vai funcionar dessa vez,” ele disse à emissora.
Este não é o primeiro alerta de Mohamed.
Há duas semanas, ele disse que não era para os investidores comprarem as quedas de mercado, porque o coronavírus iria “paralisar a China” e teria um “efeito cascata por toda a economia global.”
O mercado não o escutou.
No atual cenário, ele diz que as empresas têm adotado uma postura mais realista do que os economistas e analistas de mercado.
“Algumas empresas suspenderam seu guidance para os lucros de 2020 de forma coordenada. Já a revisão dos economistas foi uma pequena queda no primeiro trimestre seguida por uma retomada no segundo. Na mesma linha, a maioria dos analistas está estimulando os investidores a comprarem a queda.”
Para ele, as incertezas de curto prazo incluem como o vírus será contido, como será o processo para superar as paradas econômicas repentinas e até que ponto o mercado estará disposto a suportar balanços “estressados”.
Já as incertezas de longo prazo são ainda mais complexas:
“O choque na China vai prejudicar o que tem sido um processo de desenvolvimento sem precedentes? O que acontecerá com a marca chinesa que sustentava grande parte da expansão e integração regional e internacional do país? A interrupção imediata das viagens e cadeias de suprimentos alimentará um processo de desglobalização?”
Mohamed diz que sua esperança é que o coronavírus seja contido rapidamente e que as quedas repentinas na economia possam ser revertidas. Mas no estágio atual ele simplesmente não enxerga evidências suficientes para prever como serão os próximos eventos.
“Há ainda muito mais incertezas do que certezas.”
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