Marcos Elias tem uma mensagem para os investidores num ano carregado de IPOs: cuidado.

O ex-gestor e analista, que fez seu nome na Link Corretora e fundou a primeira casa de research independente do Brasil, está de volta ao mercado com a Modena Capital, uma casa com cinco analistas que pretende competir com o sell-side dos grandes bancos e com as independentes Empiricus, Eleven Financial e Suno Research, que têm crescido na medida em que a economia se estabiliza e o investidor retoma seu interesse pela Bolsa.

Num relatório publicado hoje, Elias diz que seu time analisou 120 IPOs do período 2005-2008.

“Destes, apenas oito bateram o CDI (Cielo, Renner, Hypermarcas, Totvs, Odontoprev, São Martinho, M. Dias e Localiza), e, destes, seis conseguiram isso dominando a arte de crescer via fusões e aquisições,” diz o time da Modena num relatório enviado a clientes. O foco da análise do investidor deve ser “crescimento, crescimento, e crescimento, seja do faturamento, do lucro, ou do EBITDA, não importa. Não perca tempo com sofisticações analíticas desnecessárias: ache o crescimento por M&A e você achará um ‘winner‘ no longo prazo.”

Outros 28 IPOs destruíram quase todo o valor e hoje valem perto de zero quando ajustados pelo CDI, entre eles: OGX, PDG, Tecnisa, Brasil Brokers e MMX. Metade destes nomes estavam no setor imobiliário, e a outra metade eram operações greenfield (empresas que ainda estavam sendo montadas quando foram para a Bolsa).

Segundo a Modena, as lições para os próximos IPOs são:

1. “Olhe apenas uma coisa: a companhia tem capacidade de crescer com aquisições?  Se sim, compre!”

2. “Evite a todo custo: companhias com baixas barreiras de entrada.”

3. “Redobre a atenção com IPOs nos anos intensivos em ofertas.”

Extrapolando as lições dos IPOs para o universo mais amplo de empresas listadas, a Modena diz que o investidor deveria comprar ‘mestres do M&A’ — como Ambev, WEG, Ultrapar, Itaú, Cosan — e vender as empresas com management fraco.  Por quê?

“O teste mais definitivo para se medir a qualidade do management é se eles são capazes de gerar valor por meio de crescimento via fusões e aquisições. As outras gemas no mercado, que não são necessariamente mestres em M&A, são empresas de tecnologia altamente escaláveis como a Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft, aliás, as cinco ações mais valiosas do mundo.”

“Se você é um ‘value investor‘ ou um caçador de barganhas buscando múltiplos baixos, independentemente do que você olha (preço sobre o valor patrimonial, preço sobre lucro, etc), nossa equipe faz esse tipo de exercício analítico há 30 anos e não fomos capazes de identificar qualquer correlação entre baixos múltiplos e um alto retorno da ação. Se houver alguma correlação, ela é negativa.”

“É como se o mercado estivesse dizendo para a companhia: ‘Olha, Ambev, você negocia a 30 vezes lucro, mas [apesar disso], aposto que você vai performar melhor que as expectativas, então estou comprando.’ Ou ainda: ‘OIBR3, você negocia a múltiplos baixos, e isso é justo porque seu histórico é de números operacionais declinantes.’”

Em outras palavras:  o que é caro é caro por um motivo, e o que parece barato muitas vezes merece sê-lo.