O Bank of America avalia que o Governo Javier Milei começou melhor do que o previsto, apresentando um ambicioso plano para enfrentar os déficits gêmeos da Argentina – os rombos nas contas públicas e nas contas externas.
Um sinal da surpresa positiva, diz o BofA, foi o rali mais forte que o previsto dos títulos argentinos desde a posse do novo governo.
No relatório “Argentina: a good start,” o estrategista Sebastian Rondeau destaca as iniciativas no front macro, incluindo um ajuste fiscal de 5% do PIB já no primeiro ano, sendo 3% do PIB em cortes de gastos e outros 2% em aumento de receitas.
“O governo mostra determinação, e acreditamos que pelo menos 70% dos ajustes possam ser feitos sem o Congresso,” escreve Rondeau.
O analista reconhece que o ajuste fiscal “obviamente enfrenta desafios,” entre outros motivos porque a Argentina deve ter uma “recessão profunda” no primeiro trimestre, afetando as receitas do governo. Mas a partir do segundo tri a expectativa de uma boa safra agrícola ajudará nas contas públicas.
O BofA projeta um superávit primário de 1% do PIB no primeiro ano de Milei. O objetivo declarado do governo é fazer um superávit de 2% do PIB, revertendo um déficit superior a 2% do PIB em 2023.
No Brasil, o mercado estima que Lula encerrou seu primeiro ano com um déficit primário ao redor de 1% – e isso sem considerar o pagamento de precatórios atrasados. Os dados fechados do ano ainda não foram divulgados.
O Ministro Fernando Haddad mantém a meta de déficit zero em 2024, mas o mercado espera um novo ano de resultado negativo – um déficit de 0,8%, segundo o último Boletim Focus.
Segundo o BofA, a Argentina vem melhorando também suas contas externas e voltou a acumular reservas internacionais. O Banco Central comprou US$ 4 bilhões desde dezembro, usando parte dos dólares para quitar dívidas e reforçando as reservas em US$ 3 bilhões.
Com a liberalização gradativa do câmbio, o BofA projeta uma diminuição na diferença entre a taxa oficial e a paralela, que deverá cair para 20% após o influxo dos recursos da safra.
A conta corrente argentina deve ter um superávit de 1% do PIB este ano, depois de um déficit de 4,4% do PIB no último ano do governo de Alberto Fernández.
A inflação continua sendo um dos grandes desafios adiante. Para o BofA, a alta nos preços deverá ser contida pelo ajuste fiscal e pela recessão, mas um programa desinflacionário mais agressivo dependerá em parte das medidas de desindexação enviadas ao Congresso.
No ano passado, a inflação argentina ficou em 211%. Para 2024, o BofA prevê um número parecido – 210%.