O Mercado Livre chamou uma coletiva de imprensa hoje para esclarecer o que o CEO Fernando Yunes chamou de “mentiras” e “hipóteses infundadas” que vêm sendo compartilhadas por entidades de farmácias sobre a entrada da empresa no setor.
Na conversa, o executivo também detalhou a estratégia da companhia e a visão de longo prazo para esse mercado.
O Mercado Livre adquiriu em agosto uma pequena farmácia no Jabaquara, que pertencia à Memed, a startup de prescrição médica. A notícia gerou pânico no setor.
A fala de Yunes é uma resposta às acusações que a Abrafarma, a entidade que representa as grandes farmácias, fez contra a empresa. A associação enviou este mês um dossiê ao CADE pedindo a abertura de um ‘incidente de enganosidade’, que poderia levar à cassação da operação e a uma multa à companhia.
A acusação da Abrafarma é de que com a aquisição da farmácia o Mercado Livre tentou mascarar interesses de ingressar no setor de farmácias, usando a estratégia como uma manobra para driblar a regulação que proibi a venda de medicamentos em marketplaces (o 3p).
“Isso é uma mentira,” disse Yunes. “Não queremos abrir uma rede de farmácias e competir com as drogarias. O que queremos é elas vendendo através do Mercado Livre.”
A Abrafarma disse ainda que o Mercado Livre estaria buscando verticalizar o setor, já que ele opera com telemedicina hoje. Outra acusação é de que a companhia estaria negociando uma parceria maior com a Memed, que levaria a entrada da empresa em prescrição médica.
“Não temos nenhuma discussão com a Memed que não seja a compra da farmácia,” disse Yunes. “E não operamos com telemedicina. O que temos são parceiros de telemedicina que operam junto com o Mercado Pago.”
O CEO disse que apesar de ter comprado uma farmácia física, a visão da companhia não é crescer no setor no modelo 1p. “Nosso plano é avançar via 3p, mas não podemos hoje por regulação, por isso fizemos a compra da farmácia, para testar e ver como o mercado funciona.”
Segundo ele, o Mercado Livre quer testar como os clientes buscam os produtos, como são feitas as compras, as informações pertinentes que são procuradas e o que a regulação permite em termos de comunicação.
“Vamos entender também como funciona a parte logística e de armazenagem, que é feita de forma diferente para medicamentos, para fazer isso de forma segura e com qualidade,” disse ele.
Em paralelo a esses testes, a companhia tem mantido conversas com os órgãos reguladores para buscar uma mudança nas regras que permita a venda via marketplace. Hoje, essa venda é proibida na RDC 44 da Anvisa, redigida em 2009.
“Essa regulação foi feita há bastante tempo e muita coisa mudou desde então. A venda via marketplace é permitida em todos os principais mercados, com e sem receita. Nos Estados Unidos é permitido. Na China é permitido. Na maior parte da Europa. No México, no Chile e na Colômbia também, e já vendemos nesses países,” disse ele.
Mas e se a regulação não avançar?
“Nesse caso, vamos ter que reavaliar e tem dois caminhos. Podemos fazer uma aquisição, criar uma rede enorme de farmácias e aí sim seríamos concorrentes das pequenas, médias e grandes farmácias. Ou podemos desistir e não entrar no setor. Estamos avaliando as alternativas.”
Enquanto a mudança não vem, o Mercado Livre deve começar a operar no modelo 1p em breve, já que a transação já foi aprovada pelo CADE, e sem restrições.
Segundo o CEO, a ideia é criar uma sessão de farmácia dentro da própria plataforma do Mercado Livre e fazer a venda de seus produtos 1p direto na plataforma — e não num novo site que seria criado, como foi especulado no mercado.
Para o MELI, o potencial é gigantesco. O mercado de farmácias movimenta cerca de R$ 200 bilhões por ano hoje, com 10% disso já sendo vendido no online. “E com a nossa entrada achamos que esse mercado online pode crescer ainda mais, porque vamos trazer acesso, velocidade de entrega e conveniência.”