O Mercado Livre conseguiu uma liminar na Justiça contra o aumento do preço do frete dos Correios, que entraria em vigor amanhã. A liminar, concedida na sexta-feira, suspendeu o reajuste para todos os vendedores da plataforma — abrindo espaço para que outras empresas de ecommerce busquem o mesmo remédio jurídico.
“A nova política de preços dos Correios […] poderá ocasionar prejuízos à parte autora, considerando o fato de que a única forma de envio das mercadorias do negócio praticado — ecommerce — se dá por intermédio do ‘Mercado Envios’ — serviço prestado pela parte ré — em regime de monopólio”, disse a juíza Rosana Ferri, da 2ª Vara Cível Federal de São Paulo.
“Importante ressaltar que a plataforma de comércio eletrônica movimenta milhares de negócios de pequenos empreendedores fomentando a economia, questão importante a ser considerada na atual conjuntura”, Ferri escreveu na decisão.

Os Correios vão aumentar sua tabela de preços a partir de amanhã. De acordo com a estatal, o aumento médio é de 8% entre capitais e em envios locais. Mas, de acordo com o Mercado Livre, nas rotas interestaduais o reajuste pode chegar a mais de 50%. 

Simulações feitas pela companhia mostram que o envio de um pacote de 500 gramas de Joinville para Fortaleza passará de R$ 54 para R$ 81. De São Paulo para Campina Grande, na Paraíba, o frete pula de R$ 34 para R$ 50. 

Os Correios instituíram ainda uma ‘taxa de emergência’ para o Rio de Janeiro, de R$ 3 por encomenda, citando a situação da segurança pública no Estado.

Ponderando seu volume de vendas e as rotas, o Mercado Livre estima que a nova tabela implicaria um aumento médio de 29%. O reajuste foi informado no dia 23, 10 dias antes de entrar em vigor, e sem que houvesse negociação entre as partes.

Única grande empresa do setor a oferecer frete grátis para a maior parte das encomendas, e dono de uma base pulverizada de vendedores, o MELI abraçou a briga e lançou na semana passada uma campanha nas redes sociais, conclamando seus seguidores e clientes a protestar contra o aumento. A hashtag #FreteAbusivoNão chegou a entrar nos trending topics do Twitter. 

No site da campanha, a plataforma sugere que os clientes dos Correios escrevam a frase de ordem nas caixas em que enviam as encomendas. 

“Não tem como absorver todo esse aumento”, diz Leandro Soares, diretor do Mercado Envios, braço de entregas do Mercado Livre. “Vamos manter a política de frete grátis, que gera muita conversão, mas, se o aumento de fato passar, uma parte do custo de frete terá que ser repassada pelos vendedores ao preço da mercadoria.”

A Netshoes também aderiu à campanha. A companhia trabalha com 15 transportadoras terceirizadas, mas afirma que há diversas rotas em que o monopólio dos Correios é total.  “Não há concorrência para chegar a determinados lugares e o aumento deste custo evidencia como a medida é antidemocrática, uma vez que limitará bastante o poder de compra em determinadas regiões”, disse ao Brazil Journal Graciela Kumrian, a COO da Netshoes. 

Com estoques centralizados e centros logísticos, outras grandes empresas de ecommerce dependem pouco dos Correios. 

Nas contas do BTG Pactual, na B2W, apenas 17% do valor das mercadorias vendidas é transportada via Correios. O restante passa pela estrutura da B2W Entregas e é entregue pela DirectExpress, adquirida em 2014. No Magazine Luiza, esse valor é ainda menor, de 2%; a empresa trabalha com uma frota de mais de 1500 motoristas terceirizados, a Malha Luiza. 

Já no Mercado Livre, cerca de 90% do total vendido é entregue via Correios — e mais de 60% se enquadra na política de frete grátis.

A medida dos Correios impacta principalmente os pequenos empreendedores, muitas vezes afastados dos grandes centros e que não conseguem arcar com a estrutura logística. “É aquela velha história: no fim, é sempre o pequeno que acaba sofrendo mais”, diz Carlos Alves, diretor de marketplace do Magazine Luiza e representante da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm). “É uma agenda contra tudo que se pensa se estimular o empreendedorismo e a economia”.

Uma pesquisa feita pela Abcomm mostra que as empresas de ecommerce estão migrando para transportadoras privadas: 53% dos entrevistados utilizavam esse opção em 2017, contra 43% em 2015 e 35% em 2013. Mas os Correios ainda seguem com grande participação: 81% das empresas de ecommerce ainda usam os serviços da estatal. (Várias empresas usam ambas as opções.)

Ao mesmo tempo, o nível de insatisfação com os Correios só cresce: 44% dos entrevistados acha o serviço péssimo ou ruim, contra 23,9% na pesquisa de 2015.