Walter Shipley, o lendário banqueiro por trás das múltiplas fusões que criaram o JP Morgan Chase como ele existe hoje, morreu na sexta-feira, aos 83 anos. Ele sofria de câncer.
As conquistas de Shipley foram especialmente notáveis dado que ele teve que abandonar a faculdade — o Williams College — graças às suas notas insuficientes. (Mais tarde, ele conseguiu um diploma na NYU cursando aulas à noite.)
Ao longo de uma carreira de 40 anos, 16 dos quais como chairman e CEO do Chemical Bank, Shipley articulou a fusão do Chemical com o Texas Commerce (1987), o Manufacturers Hanover (1991) e o Chase Manhattan (1995).
Ele se aposentou em 1999, um ano antes do que seria o ‘grand finale’ de sua carreira, quando o Chase, um banco comercial, comprou o JP Morgan, o lendário banco de investimentos.
Num email aos funcionários do banco, o CEO Jamie Dimon disse que Shipley “fomentou uma meritocracia empresarial aberta, que se mantém até hoje no JP Morgan Chase. (…) Walter acreditava que não havia substituto para o talento, a motivação e o trabalho duro.”
“Enquanto lamentamos a perda de um grande líder e pensador estratégico, nós também nos lembraremos de Walter com um sorriso por sua capacidade de motivar as pessoas e por ter conquistado seu respeito em períodos de imensos desafios.”
A Bloomberg citou um artigo de 1999 no The New York Times em que Shipley diz: “A filosofia de algumas pessoas é ‘eu ganho, você perde’. A nossa é que é melhor quando os dois lados sentem que saem vencedores.”
Walter Vicent Shipley começou a trabalhar em finanças no ano em que abandonou a faculdade, 1956, quando arranjou um emprego na New York Trust Company, que três anos depois foi comprada pelo então Chemical Corn Exchange Bank. (O interesse por banking corria na família: seu pai era sócio Brown Brothers Harriman, uma corretora em Wall Street.)
Em 1979, Shipley se tornou o vp responsável pelo banco de atacado global do Chemical — e perdeu dinheiro para o banco na crise da dívida externa brasileira. Apesar disto, tornou-se chairman e CEO em 1983.
Nem todas as suas fusões foram aplaudidas à época.
Depois que comprou o Texas Commerce, o banco de Houston “acumulou prejuízo de centenas de milhões de dólares nos anos seguintes. Como a economia do Texas se deteriorou, outros bancos do Texas quebraram e foram comprados por uma fração do que o Chemical pagou,” segundo o NYT.
Saudado com um homem que inspirava lealdade em suas equipes, Shipley colocava seu ego em segundo lugar ao desenhar a governança das fusões do Chemical.
Na compra do Manufacturers Hanover, Shipley cedeu o posto de CEO para seu colega no outro banco. Ao comprar o Chase, fez a fusão de forma que o CEO Thomas Labrecque se tornasse o COO do novo banco, e disse na imprensa que aquele era um “merger of equals”.
Essa atitude tinha a ver com sua experiência como funcionário da New York Trust: quando ela foi vendida, a maioria de seus funcionários foram escanteados e substituídos pelos do Chemical, o que, Shipley disse certa vez, “gerou muito sentimento negativo.”
Segundo a Bloomberg, a fusão com o Chase permitiu o corte de 12 mil posições (de um total de 75 mil); a companhia resultante se tornou o maior banco de atacado nos EUA e passou a disputar a liderança em cartões de crédito, hipotecas e empréstimos sindicalizados. Também significativo: com a escala do banco, pela primeira vez Shipley criou um comitê de gestão de risco no conselho.
Shipley deixa cinco filhos, sete netos e dois irmãos — e, para o bem e para o mal, um banco “too big too fail.”