A ida de Roberto Müssnich para o Assaí vai colocar um executivo com ampla experiência em atacarejo num conselho formado em sua maioria por profissionais com pouco conhecimento prévio do setor — fechando um gap de expertise que era frequentemente criticado pelos acionistas da companhia.
A avaliação é de Oscar Bernardes Neto, o chairman da gigante do atacarejo, que conversou com o Brazil Journal em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo.
Müssnich — que foi CEO do Atacadão por 14 anos e deixou a empresa em 2021 — vai ocupar o cargo de Luiz Nelson Guedes de Carvalho, que renunciou ao cargo em maio por motivos de saúde.
“Estamos permanentemente fazendo uma avaliação de competências, e com a renúncia do professor Nelson fizemos um debate grande se traríamos alguém com o mesmo perfil dele, que é especialista em contabilidade e controle, ou alguém do setor,” disse Oscar. “O que concluímos é que precisávamos de alguém que conhecesse o mercado e agregasse a visão de estratégia e futuro.”
Segundo ele, agora o conselho “está completo.”
“Não ter conhecimento de varejo é um problema. Mas só ter conhecimento de varejo também é um problema. Tem que ter complementaridades de talentos, porque às vezes alguém que não entende do setor faz perguntas ‘estúpidas’, que depois acabam não sendo tão ‘estúpidas’ assim,” disse Oscar.
Com a entrada de Müssnich, o conselho do Assaí passa a ter nove membros, dos quais oito são independentes. A única exceção é o CEO Belmiro Gomes.
Os outros integrantes são Enéas Pestana, o ex-CEO do Grupo Pão de Açúcar; José Guimarães Monforte, que faz parte de diversos conselhos; Andiara Petterle, que fez carreira na RBS e tem expertise em tecnologia; Julio Cesar de Queiroz, que fez carreira na Unilever; Leila Abraham Loria, que teve passagens pelo Walmart, Mesbla, Grupo Abril e Tevecap; e Leonardo Pereira, sócio da gestora Neuler Capital e ex-presidente da CVM.
Além de entrar no conselho, Müssnich também fará parte de dois comitês do Assaí: o financeiro e de investimentos; e o de gente, cultura e remuneração.
Depois de empreender com uma fábrica de latas para óleos comestíveis, Müssnich foi trabalhar como consultor. Seu envolvimento com o Atacadão começou em 2001, quando foi contratado pelos antigos controladores da companhia para atuar como um conselheiro estratégico.
Mais tarde, Müssnich ajudou a negociar a venda da empresa para o Carrefour Brasil, que o convidou para assumir como CEO – uma posição que ele manteve até 2021, tendo sido responsável pela expansão brutal que a rede teve naqueles anos.
Quando deixou o cargo, o executivo teve que cumprir um non-compete, que acaba de vencer.
Para Oscar, a chegada de Müssnich também prova que o conselho do Assaí não é ‘o conselho do Belmiro’, como alguns críticos já disseram algumas vezes.
“Se ele queria montar um conselho que ele mandasse, ele fez tudo errado, porque só pegou gente que ele não conhecia. E a vinda do Müssnich é mais uma prova disso.”
A mudança no conselho vem num momento desafiador para o Assaí, que tem lutado para reduzir sua alavancagem, que fechou o segundo tri em 3,6x EBITDA depois de ter batido 4,3x em 2022.
Na ordem de principais desafios da companhia, Oscar disse que a redução da dívida é a número 1, seguida pela continuidade da estratégia de crescimento e pelo posicionamento da empresa para o futuro.
“Herdamos uma dívida grande quando houve a cisão do GPA, e isso é um peso que carregamos e que estamos trabalhando duro para reduzir,” disse ele, acrescentando que a meta da empresa é fechar o ano com a alavancagem em 3,2x EBITDA.
Segundo ele, essa meta de desalavancagem é 100% orgânica, mas “sempre tem gente que nos aborda com oportunidades. Mas se tivermos alguma coisa, como venda de ativos, seria uma redução adicional, para além dessa meta.”
Na agenda de crescimento, Oscar disse que a empresa tem olhado tanto o crescimento orgânico quanto oportunidades de aquisição. “Os banqueiros estão sempre trazendo ideias, mas até agora nenhuma nos fez brilhar os olhos,” disse ele.
O chairman disse que a nota publicada no fim de semana em O Globo – afirmando que o Grupo Mateus estaria negociando uma fusão com o Assaí – é “especulação pura.”
“Não temos nenhum dogma. Não dizemos nem sim nem não para uma eventual fusão. Se fizer sentido para o acionista vamos conversar. Mas temos que proteger os interesses dos acionistas, então tem que ser algo que gere muito valor para eles. Mas hoje não tem nada na nossa mesa,” disse ele.
O chairman disse ainda que o momento não é ideal para uma fusão, dado que a empresa está com a alavancagem alta e com a ação próxima do low histórico.
“Estamos entregando o programa operacional de forma brilhante, então o valor da empresa só vai aumentar. Não acho que é hora de sermos proativos buscando uma fusão, porque estamos sendo avaliados a um valor muito baixo.”
O Grupo Mateus está valendo R$ 17 bi na Bolsa. O Assaí está valendo R$ 13,5 bilhões.