NOVA YORK – No inverno eles esquiam. No verão, ilhas gregas. Também não abrem mão de cada novo iPhone e estão sempre nos restaurantes da moda. Ainda assim, eles estão longe – muito longe – de serem considerados (ou mesmo se acharem) ricos.
Bem-vindo ao mundo não tão encantado dos HENRYs – os High Earners, Not Rich Yet.
Hoje os HENRYs mais conhecidos são os millennials que ganham de US$ 250 mil a US$ 500 mil/ano, mas não têm dinheiro na poupança. Eles pagam altos impostos, têm uma dívida média de US$ 80 mil de student loans, fazem viagens extravagantes e carregam o custo fixo pesado de uma vida glamourosa.
Com isso, nunca sobra dinheiro para guardar – seja para a aposentadoria ou um fundo de emergência – e eles precisam se privar de mimos para pagar uma boa educação para os filhos, ou investir na reforma da casa.
O termo – que já faz parte da Investopedia – foi criado em 2008 pelo jornalista americano Shawn Tully, da revista Fortune.
No artigo que cunhou o termo (mas não está mais disponível online), Tully diz que riqueza é ter um colchão recheado para amortecer qualquer queda. Por isso, há pelo menos um luxo inacessível aos HENRYs: o de parar de trabalhar.
“O termo HENRY realmente tocou os leitores,” Tully disse ao Brazil Journal. “Quando inventei isso 15 anos atrás, a ideia era abordar a classe profissional de advogados, contadores, consultores, professores universitários e vps sêniores de tecnologia que fazem a economia dos EUA funcionar. Eles são extremamente bem pagos por padrões históricos, mas nunca ficarão ricos nem acumularão uma poupança além da necessária para viver razoavelmente bem na aposentadoria.”
Desde que o termo foi cunhado, a situação piorou para os HENRYs. Os custos da faculdade continuaram a subir muito mais rápido do que a inflação – e uma das principais prioridades dos HENRYs é a educação privada para os filhos.
A criação de um limite nas deduções de impostos também afetou os HENRYs, já que a maioria deles vive em estados com impostos elevados, como Nova York e Califórnia. O terceiro problema, segundo Tully, é o custo da moradia, que superou o aumento salarial nos últimos 15 anos.
Hoje grande parte dos HENRYS trabalha com tecnologia, e, como torram em média US$ 86 mil/ano – comparado a US$ 67 mil da Geração X e US$ 60 mil dos baby boomers – eles são grandes alvos da indústria de luxo.
Do outro lado da arena estão os consultores financeiros, que tentam convencê-los a estancar as dívidas, parar de queimar dinheiro com firulas e baixar a bola para se tornem SHERWINs, ou Successful High Earners Retired with Impressive Net Worth.
Um destes consultores é Gideon Drucker, autor de How to Avoid the H.E.N.R.Y. Syndrome. Ele faz parte da terceira geração da Drucker Wealth, a empresa de planejamento financeiro fundada em Nova York pelo seu avô, Bernie, em 1959.
“Minha missão é fazer com que a minha geração – os millennials, jovens profissionais – tenham melhor conhecimento da sua situação financeira e o que nos levará a alcançar nossos objetivos,” escreveu Drucker.
A ideia nasceu quando Drucker presenciou uma reunião na qual um casal de 63 anos finalmente sentou para calcular quanto dinheiro tinham para sua aposentadoria. “Ninguém precisa esperar até lá para descobrir o que já podemos saber hoje,” escreveu Drucker.
O livro traz estudos alarmantes: apesar do aumento de 67% do salário dos millennials em comparação ao que eles ganhavam na década de 70, sua renda não acompanhou o disparo do custo de vida das últimas décadas. Quando o assunto é acúmulo de riqueza, eles correm o risco de serem taxados de “a geração perdida”.
“Farei de tudo ao meu alcance para que ninguém da minha geração precise ter dúvida, dor ou culpa por começar [a planejar] tarde,” avisa o autor.
O livro custa US$ 16 – mas é feito para se ler em casa, e não tomando champagne num resort em Bora-Bora.