A ação da MBRF dispara 23% hoje depois de já ter subido 6% no pregão de ontem. O trigger para a alta: o anúncio de que a companhia vai ampliar sua operação no mercado halal com a contribuição de diversos ativos na joint venture que ela já tinha com o PIF, o fundo soberano saudita. 

A alta de hoje vem em meio a um nível de short elevado no papel e depois de uma queda dramática na ação ao longo dos últimos meses.

Marcos Molina ok“A transação de ontem avaliou os ativos da MBRF em 9x EBITDA, enquanto a empresa negocia a menos de 6x. Além disso, tinha um short muito alto no papel. Se você junta essas duas coisas num mercado onde a liquidez não está muito boa, o efeito é esse,” disse um gestor comprado no papel.

A posição short na MBRF é de cerca de 100 milhões de ações, o equivalente a 13,6% do free float da companhia. (O controlador Marcos Molina tem 46% do capital, enquanto o free float é de 54%).

“A transação avaliou ativos que respondem por cerca de 7% das vendas da companhia a 17% do seu enterprise value,” escreveu o analista Thiago Duarte, do BTG.

O analista disse ainda que a discussão de um IPO da JV na Bolsa de Riad “pode adicionar outra camada de destravamento de valor no futuro.”

“Num momento em que os investidores estão cada vez menos confortáveis com a alavancagem da MBRF, particularmente com o ciclo de frango mostrando sinais crescentes de normalização, o anúncio vem como uma ferramenta bem vinda para reduzir a alavancagem, com a HPDC injetando capital na JV.”

Com a adição dos ativos da MBRF na JV, a participação da HPDC, a subsidiária do PIF focada em produtos halal, foi diluída de 30% para 10%. A conta no sellside é que se ela decidir ampliar sua participação de volta para os 30% isso significaria uma injeção secundária de cerca de US$ 200 milhões no caixa da MBRF.

Se quiser subir a participação para 40%, algo previsto no contrato, a injeção no caixa da MBRF seria de US$ 320 milhões. 

O BTG também notou que a transação fortalece a posição da MBRF “no que é talvez o seu mercado mais promissor.” O banco tem uma recomendação neutra na ação, mas disse que deve atualizar suas estimativas em breve. 

O reforço na JV veio depois da ação da MBRF ter despencado nos últimos meses. De 16 de setembro, quando atingiu o high recente de R$ 24,71, até 24 de outubro, quando a ação estava em R$ 15,03, a empresa perdeu 45% de seu valor de mercado. 

A queda foi geral no setor de proteína, e teve a ver principalmente com a percepção de uma piora no ciclo do frango, já que os dados de preços nos Estados Unidos começaram a piorar marginalmente. 

Com a alta de hoje, a MBRF agora vale R$ 28 bilhões na B3.