A Marisa acaba de publicar os resultados do segundo tri, e o próprio CEO João Nogueira Batista admite que será um balanço difícil de ser analisado e explicado.

A empresa divulgou uma queda de 25% na receita líquida para R$ 555 milhões e um EBITDA negativo de R$ 36,7 milhões. O prejuízo no tri foi de R$ 63,4 milhões – o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.

Mas o CEO diz que alguns números podem ser vistos como positivos – como o fato do canal digital ter conseguido sair do vermelho.

O problema, segundo ele, é que o balanço está muito poluído por causa do fechamento de 88 lojas anunciado em julho – e que causavam uma sangria de R$ 60 milhões no EBITDA da empresa.

Além disso, a varejista de vestuário demitiu cerca de 25% de 8.000 colaboradores, o que impactou os custos em R$ 12 milhões no trimestre.

Nas contas da Marisa, a redução de despesas, que também incluiu renegociação com fornecedores, será da ordem de R$ 35 milhões por ano.

“Vamos ter um incremento de EBITDA de R$ 100 milhões no ano que vem somente com essas decisões,” Nogueira Batista disse ao Brazil Journal.

A reestruturação começou a ser colocada em prática em fevereiro, quando Nogueira Batista – um executivo com passagens pela Petrobras, Suzano e Bertin – chegou à companhia.

Antes dele, a Marisa teve três CEOs em 12 meses, que não entregaram bons resultados. A ação da varejista caiu de R$ 3 em agosto para R$ 0,61 em março, quando Nogueira Batista assumiu.

O papel fechou hoje a R$ 0,85, com a companhia valendo R$ 291 milhões na Bolsa.

Com concorrentes como a Shein ganhando market share e o vencimento de dívidas de curto prazo batendo à porta, a família Goldfarb contratou a BR Partners e a Galeazzi Associados para pensar em mudanças – e aí chegou à mesa o nome de Nogueira Batista.

“A situação da companhia era difícil e ficou quase impossível,” disse o CEO. “A gestão anterior estava enrolada e ainda havia desavenças internas.”

A questão mais complicada era – e ainda é – da financeira da Marisa, o MBank. A inadimplência disparou e o caso Americanas atrapalhou a conversa com os bancos.

A saída foi a capitalização de R$ 90 milhões do MBank feita pela família Goldfarb. Porém, esse dinheiro dos controladores não é infinito. “A família me avisou: queremos a recuperação da empresa, mas evite pedir dinheiro,” disse o CEO.

Não à toa, a Marisa anunciou que vai fazer mais uma capitalização de R$ 30 milhões no MBank em agosto, mas com dinheiro vindo do próprio caixa da varejista.

Neste segundo tri, o banco da varejista teve uma redução de 50% no saldo de contas a receber com uma maior restrição no crédito. Mas a inadimplência ainda chama a atenção: 43,5% no private label e 59% no crédito pessoal.

A principal medida tomada por Nogueira Batista foi acabar com o crédito pessoal para focar somente no financiamento de compras na loja. Alguns serviços, como seguros para bolsas e pets, permanecem.

“Metade da carteira era empréstimo pessoal e isso afetou os números. A situação do banco continua complicada, pois o saneamento da carteira é mais lento”, disse o CEO.

Mesmo assim, o executivo está otimista com a operação nos próximos trimestres – e diz que os próximos balanços já mostrarão isso.

Nogueira Batista diz que é provável que o EBITDA da companhia volte a ser positivo no quarto tri e que o prejuízo já fique para trás no ano que vem. “Podemos recuperar até antes, caso a questão do contrabando seja resolvida,” disse ele se referindo à Shein.

Apesar do governo ter dado um passo atrás na cobrança de imposto de compras internacionais, Nogueira Batista disse que há conversas com o governo para que isso possa ser resolvido em um futuro não tão distante.

“Com igualdade de condições, competimos com qualquer um. Que sobrevivam os melhores,” disse.

Segundo o CEO, ao menos os bancos já começaram a sinalizar que estão vendo avanços na operação da companhia e sinalizam que podem voltar a emprestar.

“Antes, eu tinha que ir à Faria Lima e bater na porta dos bancos,” disse ele. “Hoje, eles estão até vindo visitar a sede da empresa na Barra Funda.”