A Lojas Marisa acaba de se juntar a uma lista cada vez maior de empresas buscando reestruturar suas dívidas – um efeito direto dos juros altos e de uma situação mais complexa no mercado de crédito depois da fraude da Americanas.

A companhia disse hoje que contratou a BR Partners para assessorá-la na renegociação de seu endividamento e a Galeazzi Associados para ajudá-la a restruturar seus custos.

A Marisa tem cerca de R$ 200 milhões em dívidas bancárias vencendo no curto prazo – os próximos 12 meses – e outros R$ 42 milhões com vencimentos de longo prazo. A companhia também tem R$ 558 milhões em financiamentos à operação do MBank, a sua financeira.

No final do terceiro tri, a Marisa tinha R$ 183 milhões em liquidez, mas dado que a companhia vinha queimando caixa trimestre após trimestre, é provável que a posição de caixa já seja menor hoje. 

O trabalho da BR Partners vai se restringir à dívida de R$ 200 milhões, e a ideia é negociar uma rolagem com os bancos credores, uma fonte próxima à companhia disse ao Brazil Journal.

“É uma combinação de tamanho e timing, mas não aconteceu nenhuma catástrofe. O negócio não estava performando super bem e acabou juntando uma série de fatores que levaram a essa concentração de vencimentos,” disse a fonte. 

A dívida da Marisa está bem pulverizada entre vários bancos, sem concentração em um único credor. 

No mesmo fato relevante, a Marisa também disse que seu CEO, Adalberto Pereira Santos, renunciou ao cargo. Adalberto assumiu o comando da empresa há apenas oito meses, depois que o ex-CEO Marcelo Pimentel saiu para assumir o Grupo Pão de Açúcar.

A Marisa disse que já está buscando um substituto e que Alberto Kohn de Penha, o atual vice-presidente comercial, vai assumir interinamente. 

Marcelo Casarin, um membro independente do conselho da Marisa, também renunciou.

Não está claro se as duas renúncias têm relação com o momento da empresa. 

O anúncio da Marisa vem num momento em que diversas empresas estão sendo obrigadas a reestruturar suas dívidas. Nas últimas semanas, CVC e Light contrataram assessores para ajudar na renegociação de seus passivos. Isso sem falar no elefante no meio da sala: a Americanas.

Existem componentes específicos na crise dessas empresas, mas o fator estrutural é o peso das dívidas com a Selic a 13,75% por muito tempo — uma realidade que o Presidente Lula quer mudar na porrada, com discursos que só tem feito piorar ainda mais as expectativas dos investidores.

“Tem alguns negócios que também ainda estão se recuperando da pandemia e essa questão da Americanas acabou criando uma incerteza no mercado, os bancos ficaram com um pé atrás,” disse a fonte. “Foi uma tempestade perfeita.”

Um gestor comprado no papel disse que a Marisa fez sucessivos aumentos de capital nos últimos anos, mas “foi tudo embora, em parte para repor os estoques, em parte para pagar os juros e a inadimplência do Mbank.”

Apesar disso, ele nota que a companhia tem dois ativos com potencial de gerar muito valor: créditos fiscais de mais de R$ 500 milhões e um prejuízo acumulado de R$ 740 milhões. 

“Se ela consegue se desfazer desse crédito fiscal, por exemplo, ela já resolve o problema da alavancagem,” disse ele. “Além disso, quando ela voltar a dar lucro ela vai passar muitos anos sem pagar impostos por conta desse prejuízo acumulado.”

Ele também nota que, por conta desses dois ativos, a companhia poderia ser um alvo interessante para concorrentes. “Na situação atual, a Marisa sairia de graça para a Renner.”

A ação da Marisa abriu em queda de mais 5% hoje. A empresa vale R$ 370 milhões na Bolsa.