A Braskem reportou um resultado dramático no segundo trimestre, refletindo a queda expressiva nos spreads do polietileno (PE) e polipropileno (PP) e problemas operacionais da empresa. 

Essa dinâmica levou o EBITDA da Braskem a desabar 83% na comparação anual para R$ 703 milhões, com a empresa da família Odebrecht reportando uma margem de apenas 4% — bem abaixo da margem histórica, que gira em torno de 12% a 17%, e num patamar insuficiente para cobrir o capex de manutenção, de cerca de R$ 800 milhões.

O consenso do sellside era de um EBITDA de R$ 1,1 bilhão. 

A margem EBITDA só havia sido pior no quarto tri do ano passado, quando a Braskem reportou uma margem negativa de 1%.

A queda na margem teve a ver principalmente com a retração do spread das resinas, que basicamente é a diferença entre o preço a que a resina é vendida e o custo da matéria-prima.

Nos últimos doze meses, o spread do PE caiu 48% no Brasil; o do PP, 7%; e o do PVC, 50%. O spread do PP nos Estados Unidos caiu outros 63%; o da Europa, 28%; e o do PE no México, mais 27%. 

Com a queda expressiva no EBITDA, a alavancagem da Braskem disparou, subindo de 3,8x EBITDA no primeiro tri para 7,9x agora — colocando em risco o grau de investimento da companhia.

Hoje, a Braskem tem um rating de AAA em escala nacional, tanto pela S&P quanto pela Fitch. 

“As agências de rating não vão tolerar esse nível de alavancagem para sempre,” disse um investidor. “No ano que vem, a Braskem vai ter que desalavancar, nem que seja com a venda de ativos.”

O que mitiga o risco de liquidez é o fato da dívida da companhia ser majoritariamente de longo prazo.

A petroquímica reportou um prejuízo de R$ 771 milhões (US$ 156 milhões) no trimestre, abaixo das estimativas do sellside, que já projetava um resultado ruim. O Citi, por exemplo, esperava um lucro de US$ 73 milhões, enquanto o consenso era de um prejuízo menor, na ordem de US$ 100 milhões.

A Braskem também queimou caixa pelo segundo trimestre consecutivo, com um free cash flow negativo em R$ 734 milhões.

O resultado ruim chama a atenção porque no setor petroquímico, sazonalmente, o segundo tri é melhor que o primeiro, dado que as empresas começam a aumentar sua produção para entrar a pleno vapor no terceiro tri.

Mas o segundo tri da Braskem foi pior que o primeiro em literalmente todos os indicadores – em parte pelo momento do mercado, mas em parte por problemas operacionais. A companhia disse, por exemplo, que sofreu com “instabilidades” na operação das fábricas do Brasil. 

“A empresa também está à venda há cinco anos, o que atrapalha muito o dia-a-dia do management,” disse um executivo do setor, notando que a Braskem é uma empresa de controlador mas que a Novonor já não contribuindo com estratégia e inteligência há algum tempo.

A espiral negativa da Braskem vem num momento em que há três propostas na mesa pela empresa. A maior delas é da Unipar, que avalia a companhia em R$ 36,50 por ação, seguida pela J&F Investimentos, dos irmãos Batista, que fez uma proposta avaliada em R$ 32 por ação; e a da Apollo Global e do Abu Dhabi National Oil Company, cujo valor presente fica em torno de R$ 25-R$ 30. 

O processo de venda, no entanto, parece andar a passo de cágado — em parte porque a Petrobras não decidiu ainda se vai exercer seu direito de preferência.

A ação da Braskem cai 2,70% hoje depois do resultado. A empresa vale R$ 18 bilhões na B3.