A M. Dias Branco finalmente começou a entregar uma recuperação nas margens depois de sofrer nos últimos trimestres com a disparada no preço dos insumos.

A fabricante de massas e biscoitos fez uma margem bruta de 34,3% no segundo trimestre, um aumento de 6,5 pontos percentuais na comparação anual. Já a margem EBITDA ficou em 14,1%, 6,3 pontos acima de um ano antes.

O papel abriu em alta de 12%.  Na sexta-feira, havia 6,7 milhões de ações vendidas a descoberto, o equivalente a 7,85% do free float ou 8,2 dias de negociação do papel. 

A melhora nas margens teve a ver basicamente com um maior repasse dos custos.

A companhia aumentou os preços de seus produtos na média em 19% na comparação trimestral e em 36% na comparação anual.

O resultado surpreendeu até os mais pessimistas. 

O BTG, historicamente o sellside mais cético com a ação, disse que o tamanho do repasse de preços foi “impensável”, e que a batalha da M Dias Branco para recuperar margens “aparentemente entrou numa fase mais positiva.”

“Ficamos realmente impressionados com o ritmo de aumento de preços,” escreveram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin. “Ainda que a gente sempre achasse que as margens da M Dias Branco fossem normalizar em algum momento, em grande parte conforme os custos fossem reduzindo, isso aconteceu muito mais rápido do que antecipamos graças ao pricing.”

Apesar da melhora nas margens, a alta nos preços teve um efeito colateral negativo. 

A fabricante de marcas como Adria, Vitarella e Piraquê perdeu 3,6 pontos percentuais em market share no segmento de biscoitos, provavelmente por ter aumentado os preços mais que os concorrentes. 

Já o segmento de massas se provou mais resiliente, com o market share se mantendo estável apesar dos preços mais altos.

No consolidado, a M Dias Branco teve alta de 26% na receita, resultado da alta de 36% nos preços e de uma queda de 7% no volume de vendas. 

Para os analistas do Itaú BBA, apesar da recuperação das margens, a tese de investimento da empresa ainda está nebulosa.

“Para nos tornamos mais assertivos em relação à dinâmica do top line da empresa, vamos precisar ter uma visão mais clara sobre como a companhia espera que seus custos variem, no relativo ao mercado, e sobre sua estratégia de gerenciar o tradeoff entre market share e margens no curto prazo.”

Aparentemente, o mercado já vinha precificando a recuperação. No fechamento de sexta-feira, a ação estava em alta de 39% desde o início do ano, com a empresa valendo R$ 10 bilhões na Bolsa. 

Mesmo com essa alta, a companhia ainda negocia a 12,5x o lucro estimado para 2023, abaixo da média histórica de 17x, nas contas do Bradesco BBI. 

E isso considerando “nossa projeção conservadora de uma margem EBITDA de 15% para 2023, abaixo da média histórica de 16-17%.”