15 mil produtores de laranja do Brasil respiram aliviados. O suco de laranja ficou de fora do tarifaço de 50% de Donald Trump.
Se fosse implementada, a tarifa seria quase uma sentença de morte para a citricultura brasileira, que exporta 70% do que produz para os Estados Unidos.
Na ordem executiva publicada pela Casa Branca, o governo americano colocou cerca de 700 produtos numa lista de exceções. Petróleo e derivados, minérios, peças para aviação e suco de laranja são os produtos com maior impacto.
Estimativas iniciais apontam que a lista de exceções engloba 45% do valor das exportações brasileiras para os Estados Unidos.
Só o impacto potencial para a citricultura brasileira seria de US$ 3,5 bilhões caso o produto não fosse incluído.
“Estamos felizes e aceitamos de bom grado, mas que não fique dúvida: não foi uma concessão ao Brasil, mas sim à indústria americana, que depende da fruta brasileira,” Ibiapaba Netto, diretor da CitrusBR, a associação que reúne os processadores de suco de laranja, disse ao Brazil Journal.
Cerca de 56% do consumo americano é abastecido pelo suco concentrado e congelado do Brasil, cujas empresas criaram toda uma infraestrutura de transporte e armazenamento próprio nos Estados Unidos.
O mercado americano de suco de laranja é composto por 30% de private labels (marcas de redes como Walmart e Safeway) e 70% por marcas próprias – sendo que 60% desse mercado é dominado pela Coca-Cola e a Pepsico.
A Johanna Foods, uma das principais distribuidoras de suco do mercado de private label, chegou a entrar na Justiça americana alegando que seus custos aumentariam em US$ 68 milhões com as tarifas, o que a obrigaria a repassar aos consumidores americanos.
A pressão de envasadoras e distribuidoras foi grande em favor do Brasil porque a citricultura americana vem encolhendo ano após ano.
Os EUA terão agora a menor safra de laranja desde 1986, quando o USDA iniciou o acompanhamento da produção. A safra 2024/2025 registrou novo tombo: 28% em relação ao período anterior.
Enquanto o Brasil produziu 1 milhão de toneladas de suco de laranja concentrado e congelado, os EUA conseguiram apenas 80 mil toneladas – o equivalente a 5% da oferta global.
Furacões na Flórida e o avanço do greening – a doença que reduz a produtividade das lavouras de laranja – têm reduzido a viabilidade econômica da atividade. Muitos produtores estão direcionando terras tradicionais de cultivo para a construção de condomínios.
Mesmo poupado por Trump da tarifa de 50%, o suco de laranja segue taxado mais em 2025 do que era no passado.
Além dos US$ 415 por tonelada (praticado há décadas), os 10% instituídos no início da guerra comercial se convertem numa taxa final de cerca de 21%, que vai direto para o Tesouro americano.
“Essa taxa é descontada no preço da tonelada e já havia sido absorvida por todos os elos do setor,” disse Ibiapaba. Com o preço da tonelada em US$ 3,5 mil, a fatia das tarifas agora é de US$ 780.
Para os demais produtos do agro brasileiro que seguem taxados no teto, o momento é de correr para que o lobby faça efeito.
Muita gente ainda conta com o aceno do Secretário de Comércio, Howard Lutnick, que mencionou a possibilidade de que produtos agrícolas que não são cultivados nos Estados Unidos, como café, manga e cacau, tenham a tarifa zerada.
Ainda que tenha alimentado o otimismo entre os produtores brasileiros, que respondem por um terço do café consumido nos Estados Unidos, é bastante remota a ideia de uma tarifa zero – mesmo porque o café do Vietnã, por exemplo, teve uma taxa fixada em 20% no acordo comercial assinado no começo de julho.
No início da tarde desta quinta-feira, o México conseguiu uma extensão de 90 dias para a aplicação do tarifaço, véspera da data limite de 1 de agosto. O objetivo é que agora os dois países cheguem a um consenso para um acordo comercial.
Ainda faltam 6 dias para que o tarifaço de 50% entre em vigor no Brasil. Assim como ocorreu com a cadeia do suco de laranja, a pressão do setor privado americano pode fazer toda a diferença. E nessas horas, Trump always chickens out.