A medicina está muito perto de começar a diagnosticar o Alzheimer da mesma forma que mede o colesterol: por um exame de sangue.
É o que diz um estudo publicado no último domingo no JAMA (o Journal of American Medical Association).
Os cientistas Sebastian Palmqvist e Oskar Hansson, da Lund University, da Suécia, relataram no estudo que um exame de sangue para identificar a doença foi significativamente mais preciso do que a interpretação dos médicos ou tomografias computadorizadas.
Enquanto exames computadorizados ou punções lombares acertam em 73% das vezes o diagnóstico e os médicos que fazem testes cognitivos acertam em 61% do tempo, o exame de sangue tem 90% de chance de diagnosticar corretamente o Alzheimer.
Para além da precisão, a descoberta pode ser um marco na busca por maneiras acessíveis e baratas de diagnosticar a doença que atinge 32 milhões de pessoas em todo o mundo.
“Este é um momento transformador para pacientes com doença de Alzheimer,” escreveu o Dr. Stephen Salloway, da Brown University, em um artigo que acompanha o estudo.
Como a nova pesquisa foi conduzida na Suécia, os autores alertam que os resultados precisam ser confirmados em populações mais diversas, como a dos EUA.
Além disso, eles enfatizam que os exames de sangue devem ser apenas uma etapa do processo de diagnóstico e só devem ser usados para pessoas com perda de memória ou algum outro sintoma cognitivo — e não para pessoas saudáveis que querem prever se vão desenvolver a doença.
“Se você detectasse a patologia da doença de Alzheimer em uma pessoa sem comprometimento cognitivo, não haveria terapias a serem oferecidas,” disse o Dr. Oskar Hansson. “Há um risco de ansiedade e outras reações psicológicas a um resultado de teste.”
Hansson explica que a patologia pode começar 20 anos antes de quaisquer sintomas, mas muitas vezes a demência não se desenvolve ou a pessoa até morre de outras causas antes disso.
De acordo com o Dr. Palmqvist, o outro autor do estudo, a precisão do exame de sangue foi maior em pacientes que já haviam progredido para demência e um pouco menor em pacientes em estágio de pré-demência, chamado “comprometimento cognitivo leve”.
Mas o exame não foi muito preciso no estágio inicial, quando os pacientes começam a perceber que sua memória está falhando.
De qualquer forma, a comunidade médica ficou animada com os resultados.
“Este importante avanço no diagnóstico melhorará o acesso da comunidade ao diagnóstico preciso e precoce da doença de Alzheimer em um momento em que a chegada do tratamento com anticorpo monoclonal amiloide torna o diagnóstico precoce imperativo,” disse Dr. Stephen Salloway, da Brown University
A Food and Drug Administration (FDA) aprovou nos últimos 12 meses dois novos medicamentos contra o Alzheimer (Leqembi e Kisunla), que atacam o amiloide.
Os amiloides são pequenas fibras proteicas que se instalam em tecidos do corpo, prejudicando o funcionamento dos órgãos. As estruturas dessas pequenas fibras se espalham pelo cérebro, movendo-se de uma célula para outra, levando à degeneração dos neurônios e a consequente perda de memória ou outros prejuízos cognitivos.