Parte da alta da Bovespa ao longo do dia teve a ver com a percepção do mercado de que a Lava Jato está chegando muito perto do ex-Presidente Lula.
Declaradamente, a nova fase da operação não é para investigar o ex-presidente, mas os mandados de busca e apreensão executados hoje devem ajudar os investigadores a determinar a relação do triplex que Lula mantém no Guarujá com empresas offshore investigadas na Lava Jato. (Empresas offshore são frequentemente constituídas em paraísos fiscais e servem, em alguns casos, para esconder a identidade e os bens de seus acionistas.)
“Uma eventual prisão do Lula seria ainda mais relevante para o mercados do que um impeachment da Dilma,” diz um broker que trabalha fora do Brasil. “Este seria um evento que absolutamente não está no preço.”
Para um operador em São Paulo, o ganho de hoje — alta de 2,3% no índice — teve a ver com a perspectiva de “um enterro [político] do Lula em 2018.” Precipitações à parte, o simples fato desta leitura política ter alguma repercussão nos preços mostra o quanto a crise da economia está envelopada na da política.
A outra metade da alta de hoje teve a ver com a perspectiva de que o banco central americano manifestasse, esta tarde, uma postura mais flexível em relação a sua intenção de subir os juros este ano. Com a economia mundial em câmera lenta e a China flertando com o abismo , os bancos em Wall Street, para usar a expressão cunhada por Mohamed El-Erian, querem que o Fed seja seu BFF (best friend forever) e ofereça promessas de estímulo sem fim (em outras palavras: dinheiro de graça). Mas o Fed de Ben Bernanke já ficou para trás, e, quando falou, o Fed de Janet Yellen disse ao mercado que está ‘monitorando de perto’ o que acontece no mundo, mas deixou implícito que o plano de subir os juros continua. Todos os índices das bolsas americanas caíram em seguida.
O Fed falou com a Bovespa já no leilão de fechamento; o ajuste virá amanhã.
O fato é que, com a economia brasileira frígida e moribunda, a alta de hoje na Bovespa não foi alimentada por nenhum investidor colocando dinheiro novo por achar que a Bolsa está barata. O dinheiro veio dos ‘vendidos’: os investidores que alugam e em seguida vendem ações esperando recomprá-las na baixa. Para zerar sua aposta, alguns destes investidores recompraram os papeis hoje, gerando a alta. Petrobras, esse cartão-postal do Brasil de hoje, subiu 8,8%.
Outras empresas grandes também performaram melhor que a média. A Ambev subiu 5,8% e negociou duas vezes o volume médio: um investidor que estava vendendo o papel há dias (e deprimindo a cotação) teve seu lote raspado hoje, principalmente por gestores locais. O Pão de Açúcar subiu 6,6% e a CCR, 5,3% — a última, com volume acima da média.
No lado ‘down’ da força, a JBS despencou mais 14,7%. Ontem, o papel já caíra 7% depois da notícia de que a Justiça Federal de São Paulo aceitou denúncia contra Joesley Batista — um dos controladores da empresa— e outros atuais e ex-executivos do grupo J&F por crime contra o Sistema Financeiro Nacional.
A queda de hoje veio com um volume de quase oito vezes a média diária, evidenciando que muitos investidores zeraram sua posição às pressas. Desde o início do ano, a JBS cai 32%.