A eureciclo — uma certificadora de ‘créditos de reciclagem’ que já atende mais de 7.000 empresas — acaba de levantar R$ 100 milhões para quadruplicar de tamanho até o final do ano que vem e fomentar a infraestrutura de reciclagem no Brasil.
A rodada Série B foi liderada pela Oria Capital, uma gestora de growth equity focada em softwares B2B, e teve a participação da Tera, Rise Ventures, Endeavor Scale-Up e Redpoint eventures.
A capitalização vem num momento em que a demanda pelos serviços da eureciclo explodiu — em parte porque as empresas estão mais preocupadas com suas metas ESG, em parte pelo aumento da fiscalização sobre o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A plataforma da eureciclo rastreia toda a cadeia de reciclagem de embalagens — de garrafas pet de refrigerante a garrafas de vidro de cerveja, de latinhas de metal a embalagens de papel.
Para isso, ela se conecta com mais de 12 mil operadores – como cooperativas de catadores e concessionárias de aterros – que fornecem dados sobre o volume dos materiais reciclados.
A eureciclo transforma esses dados em créditos de reciclagem e os vende para empresas que precisam compensar, por exemplo, o alumínio usado em suas embalagens.
O preço do crédito leva em conta o custo para reciclar cada tipo de material, e varia de estado para estado.
A eureciclo permite que esses operadores – que antes ganhavam apenas na venda dos materiais que coletavam – passem a ganhar uma receita adicional, vinda do valor dos créditos vendidos.
Para garantir a confiabilidade dos dados, a eureciclo exige três documentos dos operadores: a nota fiscal de venda dos recicláveis para a transformadora final; o manifesto de transporte do resíduo; e o certificado de destinação final.
Ano passado, a eureciclo vendeu certificados de mais de 200.000 toneladas de materiais reciclados, movimentando cerca de R$ 30 milhões na plataforma. A expectativa é dobrar o volume este ano e novamente em 2023, chegando a 800.000 toneladas.
A startup ganha uma comissão de 25% em cima desse total, e o restante é repassado aos operadores que fizeram a coleta, triagem e destinação do material.
“Em alguns materiais, a receita dos créditos pode até dobrar o que o catador ganha com aquela reciclagem, o que o incentiva a coletar alguns materiais que ele antes não coletava,” Thiago Carvalho Pinto, o fundador da eureciclo, disse ao Brazil Journal.
Com o tema ESG se tornando onipresente, muitas empresas têm buscado o serviço da eureciclo por uma questão de marketing. Afinal, é bonito colocar o selo “eureciclo” na embalagem e divulgar os dados da compensação nos relatórios de sustentabilidade.
Mas a questão legal também tem um peso grande na decisão de contratar o serviço.
Pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, que entrou em vigor em 2010, o fabricante é responsável pelo ciclo de vida de seus produtos e é obrigado a reciclar pelo menos 22% de todo material que produz.
O descumprimento disso tem implicações graves. Para que o órgão ambiental do Estado libere a licença de operação de uma fábrica, por exemplo, a empresa precisa de um certificado mostrando que tem reciclado esses 22%.
“Desde o início da pandemia a demanda aumentou muito e umas 200 empresas têm procurado a gente todos os meses,” disse o fundador.
A rodada vai ser usada em parte para conseguir atender essa demanda, já que a eureciclo tem um gargalo em sua área comercial, o que tem gerado uma fila de espera.
Outra parte vai ser usada para fomentar o desenvolvimento da infraestrutura de reciclagem no Brasil, que tem um déficit em relação à demanda.
“A infraestrutura atual permitiria reciclar de 3% a 7% de todo o material produzido no Brasil, então tem um risco de no médio prazo haver uma escassez de capacidade e, consequentemente, de crédito de reciclagem,” disse Thiago.
Para mitigar esse cenário, a eureciclo vai levantar um FIDC para emprestar dinheiro aos operadores de reciclagem que queiram ampliar sua capacidade. A startup vai comprar as cotas subordinadas do FIDC e levantar o restante com investidores institucionais.
A eureciclo também vai atuar como uma espécie de consultor do fundo, usando os dados que ela tem sobre o perfil e a produção dos operadores para criar os scores de crédito e avaliar a viabilidade financeira dos projetos.
A corrida é contra o tempo.
“Além de já termos começado atrás da meta, esse 22% é progessivo pela lei. Daqui a dois anos, a exigência vira 26% e daqui a quatro, vira 30%. Sem falar que as empresas tendem a aumentar sua produção e a geração de resíduos.”