A dinâmica competitiva de uma parcela relevante dos bancos e empresas listadas na Bolsa mudou – e essa é uma má notícia para quem acha que o Ibovespa está descontado.
O P/L médio histórico do Ibovespa é de cerca de 12x, e hoje esse indicador roda pouco abaixo de 10x.
Mas na conta de Felipe Guerra, o fundador e CIO da Legacy Capital, o P/L justo do Ibovespa é esse mesmo.
Para ele, “a média histórica é distorcida.”
O motivo, segundo o gestor, é que os setores com pesos relevantes no Ibovespa – bancos, mineração, petróleo, gás e bebidas, que respondem por cerca de 50% do índice – se transformaram nos últimos 10-15 anos.
A mudança tem pressionado os resultados (e as perspectivas) dos grandes bancos e das companhias desses setores que integram o Ibovespa. Isso explica por que suas ações deveriam ser negociadas com desconto em relação à média histórica, disse Guerra.
O mercado bancário, por exemplo, está bem mais competitivo hoje do que uma década atrás. “Além disso, parte do capital foi expatriado, com os papéis de instituições como Nubank, XP e Inter sendo negociados no exterior.”
Já o setor de petróleo e gás passou por um de-rating global em razão da busca por energias renováveis. “Há uma mudança estrutural em curso. Quem compra ações dessas empresas está atrás de dividendos, não de crescimento,” e o múltiplo de uma pagadora de dividendos é inferior ao de uma companhia que entrega growth.
As produtoras de minério também enfrentam uma mudança estrutural de cenário em razão da expansão mais lenta da economia chinesa – o que justifica múltiplos mais baixos na visão de Guerra.
Por fim, a Ambev, que no passado era negociada com prêmio por vender produtos diferenciados e conseguir repassar preços, hoje enfrenta maior concorrência e pressão nas margens.
“Existem ações baratas na Bolsa brasileira, mas não são as principais do Ibovespa,” acredita Guerra.
A Legacy administra R$ 20 bilhões de clientes.
Seus fundos long & short estão comprados em empresas como Banco do Brasil, Equatorial, Sabesp, Vivara e Azzas 2154, e vendidos numa carteira de papeis com múltiplos acima da média histórica e no próprio Ibovespa.
O net exposure da gestora em ações está praticamente zerado, um reflexo dos dois vetores que atrapalham a Bolsa hoje: os preços das commodities caindo (dado o medo de uma recessão global) e a expectativa de um ciclo de alta de juros (dado que a inflação brasileira está acima da meta).