Pedro Arnt, o ex-CFO do Mercado Livre que deixou a companhia há cinco dias, acaba de ser anunciado como o co-CEO da dLocal, a empresa uruguaia de integração de pagamentos listada na Nasdaq.
A ação da dLocal fechou o dia em alta de 13% com a publicação de um resultado trimestral forte. O release vazou minutos antes do fechamento do mercado e incluía a notícia da chegada do novo co-CEO.
No after market, o papel está subindo mais 33%.
Arnt estava há 24 anos no Mercado Livre, 12 como CFO, e sua saída pegou o mercado de surpresa. No dia seguinte à sua saída, Arnt disse a investidores que estava indo para um “great business that can become a great company.”
A ida de Arnt para a dLocal vem num momento delicado para a companhia, cujo valor de mercado derreteu 77% desde o high em setembro de 2021.
Hoje, o papel negocia a US$ 15,50 na Nasdaq, em comparação aos US$ 67 do high. No IPO, em janeiro de 2021, a ação saiu a US$ 21.
No ano passado, a empresa caiu junto com todo o setor de tech. Mais recentemente, no entanto, ela passou por uma nova correção depois que a Muddy Waters – a gestora americana mais conhecida por tomar posições short – publicou um relatório de 47 páginas em outubro acusando a dLocal de fraudar seus números.
Em abril, ela soltou uma nova carta dizendo que o governo da Argentina estaria investigando a empresa.
Até recentemente, a dLocal era comandada apenas por Sebastian Kanovich, um dos co-fundadores. Em junho, após as alegações da Muddy Waters, Sergio Fogel — o outro fundador — voltou para o dia a dia, assumindo como co-CEO.
Arnt vai substituir Fogel, que ficará como chairman da companhia.
Fundada em 2016, a dLocal atua basicamente como um API que permite que gigantes globais como Amazon, Google, Facebook, Shoppe e Alibaba recebam pagamentos de diferentes formas em diferentes países. A empresa atua apenas em mercados emergentes, onde hoje compete basicamente com a Ebanx, a startup de Curitiba que se tornou um unicórnio em 2019.
A dLocal hoje atende cerca de 600 clientes, com os dez maiores respondendo por quase metade da receita.
Um gestor que montou posição no papel recentemente disse que as alegações da Muddy Waters são sem fundamentos e que, após a queda, a empresa passou a negociar com um desconto relevante. Para ele, existe um desconhecimento muito grande do mercado sobre o que a dLocal faz.
“Muita gente compara com o business de adquirência, que é um negócio de distribuição e não de tech. E que por isso gera pouco valor econômico ao longo do tempo,” disse o gestor. “Mas a dLocal é um business de tecnologia, cujo diferencial é muito mais na qualidade do API e na capacidade de processamento dos dados.”
Segundo esse gestor, a diferenciação neste mercado não é tanto no preço, mas sim em quem consegue ter a maior quantidade de meios de pagamentos, no maior número de países e com o maior percentual de aprovação dos pagamentos.
“O Google, por exemplo, tem uma margem bruta muito alta. Então se a dLocal cobrar uma taxa de 1,5% mas consegue aprovar 70% das transações e um concorrente cobrar 1% mas só aprova 60% das transações, para o Google é mais interessante contratar a dLocal mesmo pagando mais caro.”
Os maiores acionistas da dLocal são os dois fundadores, que somados têm 58% do capital, seguidos pela General Atlantic, com 21%.
Do free float, os maiores acionistas são a D1 Capital Partners, a Atmos Capital e a Ribbit Capital, que têm cerca de 2% do capital cada.
A dLocal vale US$ 4,5 bilhões na Nasdaq, com o papel negociando a cerca de 30x o lucro estimado para o ano que vem. Parece alto, mas o múltiplo é um desconto relevante em relação a empresas globais desse setor, como a Adyen e a Stripe, que negociam a cerca de 50x.