A Kepler Weber — a maior fabricante de equipamentos para armazenagem de grãos do Brasil — está criando uma nova unidade de negócios para tentar aumentar suas receitas recorrentes e diminuir sua exposição à volatilidade dos preços de commodities. 

A nova business unit engloba a sync, uma plataforma em que a Kepler vende sensores para grandes produtores rurais monitorarem e automatizarem seus equipamentos. Agora a Kepler quer agregar a essa venda de hardware uma venda de software e de um serviço prestado pela companhia. 

O anúncio está sendo feito agora no Investor Day da empresa. 

Quando o agricultor assinar o serviço, a Kepler vai implantar os sensores nos equipamentos que o cliente definir (dos silos aos secadores e máquinas de limpeza) e fazer para ele todo o monitoramento do funcionamento das máquinas — essencialmente, uma solução de internet das coisas (IoT).  

O objetivo é garantir que as máquinas estão operando bem e o grão, nas condições ideais.

Num secador de grãos, por exemplo, os sensores capturam dados como temperatura e vazão de ar. Se encontra algum dado fora do padrão, o sistema ajusta automaticamente e impede danos maiores nos grãos e no próprio equipamento. 

“Isso é importante porque o grão é um ser vivo, ele respira,” Piero Abbondi, o CEO da Kepler, disse ao Brazil Journal. “Se ele respirar demais dentro do silo, ele perde peso e o agricultor vai ganhar menos na venda. Se ele respirar pouco, ele seca e vai ter que ser vendido com desconto.” 

A nova unidade — cujo nome ainda não foi definido — deve aumentar a receita recorrente da Kepler Weber, que hoje representa apenas 15% do negócio e vem da vertical de peças e reposições. 

O grosso do faturamento vem da venda dos equipamentos para unidades de armazenagem — um negócio extremamente exposto à ciclicidade do agronegócio e que responde por 70% da receita. 

O CFO Paulo Polezi disse que com 40% de receita recorrente, a Kepler já conseguiria anular o efeito da volatilidade das commodities. Nos próximos anos, o objetivo é chegar a pelo menos 30%. 

“Num momento de baixa do ciclo, precisamos ter volumes para segurar enquanto o mercado se ajusta,” disse ele. 

Além de oferecer o serviço de monitoramento nas novas vendas, a Kepler quer digitalizar as plantas de armazenagem que ela vendeu nos últimos anos. 

Das 18 mil unidades de armazenagem de grãos que existem no Brasil, Piero calcula que metade foi feita pela Kepler, e apenas uma fração está digitalizada. 

Em outras palavras, são 9 mil potenciais clientes que podem converter suas plantas analógicas em digitais. 

O preço das assinaturas vai variar de acordo com os serviços contratados e o volume de grãos, mas o CFO disse que deve girar na ordem de dezenas de milhares de reais por mês. 

Durante o evento, a Kepler também anunciou que está mudando o nome de três de suas unidades de negócios — um reposicionamento que Piero disse que é uma mudança de ‘go to market’. 

“Estamos nos movimentando não só na parte digital, mas também nos nossos negócios tradicionais,” disse ele. 

O segmento de Armazenagem passa a se chamar Pós-Colheita; o de Exportação, Negócios Internacionais; e o de Granéis Sólidos, Portos, Terminais e Agroindústrias. 

A Kepler Weber vale R$ 1,5 bilhão na Bolsa. Depois de subir 36% este ano, a ação negocia perto da máxima dos últimos cinco anos.